os valores éticos que predominam na nossa classe-média
parecem ainda ser aqueles inculcados pelo regime militar, da mediocridade
cultural, da aceitação robótica das informações da mídia, da passividade cívica
e da alienação política (não é à toa que tanta gente diz hoje, sem noção
nenhuma da monstruosidade que está falando, que tem saudades dos militares).
Como diz Pochmann, "é um equívoco entender a elevação de renda como
mudança de classe social".
No Brasil, a ditadura
ceifou uma geração e deixou uma herança política maldita
Assim, mesmo com boom econômico, com avanços indiscutíveis
no trato da questão social, não houve uma grande transformação no sistema
político brasileiro e nas suas perversas formas de funcionamento. Ao contrário,
parecem ter-se fortalecido no século XXI práticas que remontam às nossas piores
heranças históricas, e que os vinte anos de ditadura só fizeram enraizar-se
ainda mais, em todas as esferas de poder (ou talvez SOBRETUDO nos Estados e
Municípios): o clientelismo, a corrupção generalizada, a ilegalidade como
regra, o favor como modus operandi, as negociações de favores e dinheiro na
relação executivo-legislativo (sempre em nome da "governabilidade"),
o abuso descarado do dinheiro e da máquina pública, os partidos de aluguel; são
marcas do nosso cotidiano político (embora existam exceções).
A corrida veloz para
o consumo não foi acompanhada de um grande debate em torno de outros valores.
A mudança "pelo
consumo" não alterou os fundamentos éticos da sociedade nem a lógica da
política
Os pais e avós vieram
para a cidade grande com certa expectativa e aceitação da condição precária que
teriam que enfrentar, ainda assim melhor que a seca e a fome em suas cidades de
origem. Submeteram-se corajosamente e até certo ponto pacificamente à indecente
segregação urbana que lhes foi imposta, a espoliação urbana de que falou o
professor Lúcio Kowarick. Mas seus filhos já não pensam da mesma forma
As gerações mais
velhas se habituaram, as mais jovens não entendem (ainda bem)
A manipulação descarada e a tentativa de criar
um cenário de "instabilidade"
São os paladinos do "bandido bom é bandido
morto", do "mulher estuprada é porque vestiu-se para merecer",
do "não sou racista olhe como trato bem os pobres pretos", do
"esses jovens de periferia são todos vândalos", do "é tudo
corrupto", do "é tudo petralha", do "imagina na copa".
São raivosos com um virtuosismo econômico que possa eventualmente tornar os
mais pobres consumidores doentios como eles. Não toleram ver os mais pobres
andando de avião, não suportam perder seus privilégios.
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