Enquanto a
industrialização chinesa é espetacular, estamos nos desindustrializando (CARLOS
LESSA, resumo entrevista)
O Brasil acumulou reservas, mas não aumentou a taxa de investimento, que continua abaixo de 20% do PIB. Passamos a apostar, de novo, em exportar minério de ferro, café, milho, soja.Ideia de povo existe com muita clareza na cabeçado Lula, mas a ideia de nação, não. Nós geramos empregos de qualidade, de forma intensa, até o início dos anos 80. Desde então é notável a desindustrialização e a estagnação da produtividade. Cansei de falar: o endividamento familiar não é maneira de se dinamizar a economia. Você só eleva o investimento pelo aumento da taxa, coisa que o neoliberal vê como um pecado mortal.Qual foi o problema estrutural brasileiro enfrentado? Infelizmente, nenhum. Agora, se você me perguntar: houve uma melhoria para o povão? Houve. Melhor ainda, para o não povão
Não há Estado mundial, então, tem que ser o Estado nacional. Por isso, a ideia de nação é fundamental. Eu olho o Brasil com muita angústia.Porém, quando eu comparo com a maior parte da África subsaariana, um pedaço importante do Oriente Médio, eu não posso me queixar.Tirando isso, Rússia, China e Índia têm bomba atômica, submarino nuclear, nós não temos nada disso. Eles são potências, e nós somos uma impotência do ponto de vista militar.
Enquanto a industrialização chinesa é espetacular, estamos nos desindustrializando. Sempre achei que o Brasil não era emergente, mas submergente. Os conceitos históricos de Centro e Periferia foram sendo substituídos por neologismos, como Norte e Sul, Terceiro Mundo. Depois da queda do muro de Berlim, surgiu a questão: como a gente racha o mundo? Vamos deixar todo esse Terceiro Mundo em mãos de uma eventual hegemonia chinesa ou hindu? Não, vamos recortar: emergentes e não emergentes. Por que colocar o Brasil nos emergentes, se o Brasil estava submergindo?
Com a ascensão da China e da Índia, aumentou a demanda pelos produtos primários, o que gerou uma valorização desses produtos e desvalorização dos artigos industriais. O grande círculo exportador primário brasileiro comunga muito da ideia de tornar o Brasil, novamente, uma economia primário-exportadora. Além disso, acho que o sistema bancário no Brasil nada em felicidade, porque tem uma rentabilidade patrimonial duas vezes superior à média da indústria.
O Brasil teve, por mais de dez anos, bonança nas suas contas externas, apoiado por uma política de absoluta abertura do sistema financeiro brasileiro e articulação como sistema financeiro mundial. E aí conseguiu combinar um superávit expressivo na balança comercial com um superávit na balança de capitais.
As empreiteiras brasileiras não fazem parte da linha de frente em defesa da indústria. Elas, por definição, dependem do investimento público. Mas eu não as vejo tão preocupadas como investimento público. E tem um discurso quase universal, na área empresarial, que converge com essa coisa externa de desvalorização do Brasil: “O Brasil tem contas mal geridas”.
Só vejo um discurso empresarial na contramão, que é o da Abimaq. Eu vejo o discurso da Fiesp e da Firjan quase aplaudindo integralmente a ideia primário-exportadora. A lógica da empresa industrial é dominar o mercado. Para mantê-lo, maximiza-se o ganho. Se puder importar de fora, tem um custo mais baixo. Há 15 anos, a indústria representava mais de 20% do PIB. Hoje, só representa 13%, e a previsão é de 9%, daqui a alguns anos.
O Atlântico Sul é tão estratégico para os EUA quanto o Oriente Médio. Há aqui a imensa reserva venezuelana e o nosso pré-sal. Nesse contexto, nada mais importante do que o Brasil. O que não pode aparecer na América do Sul? Um rebelde, como a Venezuela ou a Argentina.
Evitar um cenário de inflação. Mas, para isso, teria que se fazer uma política brutal de asfixia. Que produziria uma taxa de crescimento negativo. Se Dilma cortar o orçamento na educação e na saúde, ela terá problemas. Os médicos e a população vão contra ela. Você acha que ela vai cortar onde? Em obras públicas e pavimentação. Não dá para subsidiar transporte urbano, consumo de energia elétrica e gasolina.
Brasil sempre foi vulnerável, pequeno período, nos últimos oito a dez anos mudança da lógica de preços relativos internacionais o Brasil não soube aproveitar não elevou a taxa de investimento, não melhorou a infraestrutura.
O problema é que o desequilíbrio estrutural que foi criado no Brasil é assustador. Inflação vai acontecer, independentemente do que o governo faça. Por uma razão simples: toda vez que o empresário ver que não há perspectiva dinâmica para frente, ele vai explorar ao máximo as condições de mercado.
Saturação do “Modelo Casas Bahia” veículos automotores e eletrodomésticos, taxa de investimento abaixo de 20% do PIB e concessões que não vão dar em nada pois o empresário é avesso ao risco: Uma coisa é eu aplicar, comprando o ativo pré-existente; outra coisa é arriscar em um futuro que não sei qual é.
Se você olhar o Brasil dos anos 2000, inquestionavelmente houve uma melhoria do padrão de vida na base social viabilizado pela melhor folga que o Brasil teve nas relações externas, não comprimir o salário-mínimo real, avançou de maneira razoável a cobertura dos setores mais frágeis da sociedade - basicamente, pelo Bolsa Família. O câmbio favorável, ampliou a oferta de alimentos sem pressão significativa nos preços.
O BNDES bancou de maneira espantosa a indústria automobilística. Mas não está seguindo nenhum projeto nacional-desenvolvimentista. Está servindo para fazer operações de compensação nesse cenário e segurar as contas, de campeões nacionais como Eike Batista.
Uma trajetória do que está acontecendo com os cargos intermediários da Petrobras e do BNDES, e você vai ficar assustado com a multiplicação deles. O Banco Central não diz é que ele tem outros instrumentos na mão. O câmbio. Quem tem poder mesmo no Brasil é o secretário do Tesouro, que executa o orçamento, e o Banco Central, que controla crédito e fluxo de dinheiro dentro e fora do país. É uma trajetória maravilhosa para os balanços do sistema financeiro e para as aplicações financeiras.
No comments:
Post a Comment