Tuesday, December 29, 2015

Voyage of the BeagleVoyage of the Beagle by Charles Darwin
My rating: 5 of 5 stars

Busquei inspiração para iniciar a leitura durante minhas férias em Arraial do Cabo, RJ onde o médico, biólogo, filósofo Charles Darwin passava no começo de sua circunavegação que durou cinco anos com o HMS Beagle.

Depois de uma parada frustrada que obrigou a tripulação a passar uma quarentena nas ilhas Canárias a viagem começa por uma passagem pelas ilha vulcânicas de Cabo Verde e Atol das Rocas e em seguida para Fernando de Noronha. Já no Rio o autor destaca a diversidade da vida e a luxúria dos trópicos. Em sua ida a Argentina e a Banda Oriental o autor destaca o primeiro contato com os gaúchos o índio criolo do pampas, seu domínio das bolas de caça e sua relação com o cavalo e o papel que esse animal tem na cultura desse povo. Ele destaca também o contexto da consolidação das disputas políticas do General Rosas. Durante a narrativa Darwin apesar de parecer um nerd de "apartamento" perto dos nativos é também um individuo corajoso que em nome da sua curiosidade científica sobe montanhas e atravessa planícies onde a disponibilidade de água é incerta e por onde passam índios selvagens. Depois de contornada toda região das planícies argentinas que por essa razão um dia já foram cobertas pelo mar Beagle ruma para a terra do fogo.

É marcante a descrição dos Fueguinos, aborígenes da Tierra del Fuego, que tal como os nativos da Austrália são nômades e vivem de forma precária nesta úmida e hostil região. É impactante a descrição que quando não suprimida a dieta deles cujo principal elemento seria gordura de focas as mulheres mais velhas eram sacrificadas para alimentar o grupo.

Já no chile, Darwin chega a Valparaiso de onde segue até Mendoza passando pela passagem de Portillo e em seguida por Uspallata descendo o Rio Mendoza. Na retorno ele descreve a região termal de Villa Vicencio, Puente del Inca e depois o "Cerro Aconcagua". Depois ele retorna e vai a Concepcion onde testemunha um terremoto e em direção a região do lagos uma erupção vulcanica que repercutiu ao longo de toda cadeia montanhosa dos Andes. Em Chiloé ele descreve a dificuldade de ocupar as umidas florestas de boa madeira e já fala do fervor religioso dos povos daquela regiao que ainda resistiam a independencia chilena da espanha, ele narra a ansiedade que bandeira inglesa do Beagle despertou em alguns residentes da ilha, que acreditavam que a espanha poderia estar em guerra com a Inglaterra. Conta como os espanhois aproveitavam da ignorancia do povo para induzir o povamento chiloe adentro por meio de incendio das igrejas de madeira. Ele descreve que embora ao sul de chiloe as condições relembrassem a Tierra del Fuego, essa região era mais arborizada talvez por conta dos ventos mais amenos.

Já em suas caminhadas ao norte do Chile, Darwin descreve os fortes ventos mesmo em dias sem nuvens ou precipitações chuvosas. Ele narra a historia de um comboio que foi desmantelado por uma tornados no meio do deserto. A pessoa ou morre pelo impacto da rajada ou agoniza por conta do frio causado pelo impacto do vento. Já em Callao ele destaca a diferença geológica entre esse porto e Lima sua Misty constante e ausência de chuva.

Em Galápagos ele ganha indícios para sua teoria da evolução a partir de insights de mutações com ratos vindos de navios e das variações entre os repteis e ausência de anfíbios nas ilhas. Depois de Galápagos o Beagle encara uma longa jornada de quase um mês pelo mar até o Taiti. As observação contemplativa da combinação de formações rochosas com mar tropical deixa Darwin deslumbrado. Mais que isso só amistosidade do povo do Taiti e de sua rainha gorda. De lá ele segue para a Nova Zelândia, onde ele destaca a diversidade botânica temperada e tropical a fertilidade do solo para algumas plantações de origem europeia e fala com escárnio dos Maoris, apesar de primos dos dóceis taitianos, eram como porcos (nunca tomam banho ou lavam uma roupa) pouco afáveis e adotavam o trabalho escravo. Dessa maneira, ele imagina que o papel civilizador dos missionários pode ser benéfico.

Daí ele parte para Austrália, ele também destaca a biodiversidade e para minha decepção apenas menciona o caráter "ambíguo" do ornitorrinco. O que chama atenção é sua perspicaz sensibilidade a respeito da questão dos aborígenes que são nômades vagando por um país em construção e que observam como ciganos uma civilização sendo implantada em suas terras e não tem a consciencia (talvez por serem selvagens demais) o impacto que essa migração terá no ambiente de onde coletam suas calorias garantir sua subsistência.

Finalmente, nos corais circulares meio do oceano pacifico e índico. Segundo ele esses seriam ilhas afundadas e portanto possuem esse formato. Sua inferencia é que enquanto sobem os continentes como ocorreu com a patagonia algumas areas se submergiram ao longo do tempo.

Depois disso com a passagem pelas ilhas Mauricio, Cape Town e sua passagem por Salvador e em seguida Pernambuco onde ele passa ao atravessar o rio Capiberibe em direção a Olinda ele tem uma odiosa experiencia com a falta de educação da terra dos "brazilians". Segundo ele, uma pessoa grosseiramente o expulsou de um quintal que atravessava para alcançar uma montanha. Ele diz não se surprender que isso tenha ocorrido na terra dos brazilians, pessoas pela qual ele não guarda nenhum "good will" nenhum povo seria tão odioso ao longo dos cinco anos como os brazilians terra de escravidão de decadência moral.













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FiccionesFicciones by Jorge Luis Borges
My rating: 4 of 5 stars

Borges escreve sobre o tempo e seus diversos labirintos.

A maioria dos contos envolvem reviravoltas do labirinto muldimensional que o tempo esconde. Poucos gênios tem o privlégio de narrar com denotação (citações acadêmicas) e conotação (metáforas, analogias) de forma tão refinada como é a arte literária de Borges.

O autor brinca com os limites da linguagem em sua tentativa de simbolizar o "Real" no conto "Tlon, Uqbar, Orbis Tertius" quando o autor encontra diversas enciclopédias que descrevem um país imaginário chamado de Uqbar em planeta imaginário chamdo Tlon. Em "Pierre Menard, Autor de Dom Quixote" narra-se a tentativa de um Pierre Menard, autor contemporâneo de reescrever um Dom Quixote Moderno, o mesmo autor acaba replicando cervantes na íntegra. Contos como as Ruinas Circulares que trata de sonhos, como a Loteria da Babilônia e Estudos sobre a obra de Hebert Quain, não prenderam muito minha atenção certamente merecerão uma leitura futura.

Retornar a Biblioteca de Babel é um exercício interessante, pois esse foi meu primeiro contato com Borges. "O Universo é uma enorme livraria com incontáveis livros em todas a linguas e com todo conhecimento" - o papel dos "BUSCADORES" é buscar constatemente pelo livro que é chave pare entender os outros livros enquanto os PURIFICADORES querem queimar os livros.

Em "Senderos de los Jardines que se birfucan" é o encontro replicante do algoz do algoz que mesmo após duas leituras acredito que não ainda resta um entendimento subliminar que não captei talvez até pelas limitações do meu espanhol...

Li pela quarta vez "Funes, o Memorioso", na primeira, ainda durante uma das semanas culturais da FACE da Rua Curitiba na oficina de fotografia do Maurilio Fotógrafo e depois com as dicussões com Marne Amancio consegui entender a analogia do Funes com um Diguerrote de uma camera fotográfica sem obturador, que capta todos detalhes de todos fenômenos.

Em o "Formato da Espada" Borges brinca com herói e vilão. Entre a transformação do romântico (idealista) em traidor (pragmático e realista) e o peso ético na psique do pragmático realista.

Em o "Tema do Traidor e do Herói" é uma interessante narrativa de como a realidade copia a ficção para que se promova a comoção e a revolução. Quem matou o líder Irlandes Fergus Kilpatrick? Shakespare.

A "Morte e a Bussola" narra a historia de um investigador que descobre se a quarta vítima num arranjo premeditado de 4 assassinatos.

As "Três Versões de Judas" o teólogo Nils Runeberg explica o enigma de Judas que o desenha como um Heroi por abraçado o inferno em nome da possibilidade de ressureição de cristo, lembra o heroi interpretado por Harvey Keitel em "A Última Tentação de Cristo". Tal como Saul que ficou cego quando descobriu Deus, Jesus estava falando demais em nome do nosso PAI e por isso deveria ser calado. Judas é o herói que calou Jesus e ao mesmo tempo o mandou para cruz para que ele ressurgisse como fantasma e desse a esperança do reino dos ceus a seus fiéis. Assim como todos que acessam a verdade do divino Nils Runeberg morre e desaparece com a VERDADE.

Em "El Sur" o personagem principal após quase morrer num hospital vai ao interior argentino e se depara com uma tola briga fatal com um gaucho. Depois da quase morte em hospital, o personagem abraça a morte casuística em uma briga de rua.








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Monday, September 21, 2015

Sobre a China e bancos chineses

             
Por Jairo Saddi

Em meio a tantas notícias internas ruins, convém ao observador mais atento olhar um pouco para o que se passa no mundo, especificamente para a China. A China representa hoje cerca de 16% do produto mundial e é o segundo maior parceiro comercial do Brasil. Corretamente, parafraseando Metternich, quando a China espirrar, o Brasil certamente ficará (mais) gripado.
E o espirro veio, como sói acontecer, das bolsas. O índice Xangai caiu cerca de 8,5% num único dia (24 de agosto, "a segunda-feira negra") derrubando o preço das commodities e assustando o mercado. No entanto, há outras causas que devem ser apontadas. No início de agosto, a China ordenou uma desvalorização inesperada do yuan, e, consensualmente, espera-se um menor e menos vigoroso crescimento da economia.
Além disto, um aperto monetário do Federal Reserve deve ocorrer em setembro, com o aumento de juros - depois de quase uma década, redesenhando o mapa de liquidez global. A redução do fluxo de capitais tanto para a China (quanto para o Brasil) causou um aumento na taxa de câmbio, uma alta nas obrigações denominadas em moeda estrangeira, com uma consequente maior preocupação no sistema bancário chinês.
O sistema bancário chinês é único. Maiores instituições não são públicas ou privadas, mas braços do Tesouro
O sistema bancário chinês é único no planeta. Primeiro, não é exagerado afirmar que as maiores instituições financeiras chinesas não são bancos públicos ou privados no sentido do termo, mas braços do Tesouro, já que suas relações com o Estado são estreitas. Distantes da livre competição, os bancos chineses (e não os bancos estrangeiros), até agora ao menos, eram extremamente rentáveis, amealhando cerca de 3% do PIB chinês. Parte do jogo, contudo, além de créditos ao consumidor, são os créditos concedidos às empresas públicas; o funding vem do Estado e há limitação de taxas de juros aos tomadores.
Bancos como o Industrial and Commercial Bank of China (ICBC), o China Construction Bank (CCB), o Bank of China (BOC) e o Agricultural Bank of China (ABC) estão na lista dos maiores bancos do mundo. Para se ter uma ideia da grandeza de tais instituições, só na China o ICBC tem mais de 400 mil empregados e cerca de 14 mil agências.
No entanto, há um receio justificado do risco de crédito que tais instituições gerenciam. Ainda que as estatísticas chinesas sejam sempre suspeitas de serem torturadas, estima-se que a inadimplência bancária já beire os 15% do sistema e que um panorama semelhante ao de 1990 possa ocorrer: um generalizado socorro com o dinheiro do contribuinte ao sistema financeiro chinês para evitar uma quebradeira geral.
Ademais do risco dos bancos, há um sistema bancário paralelo (shadow banks) que alguns consideram pouco mais que esquemas piramidais com extraordinárias chances de derreterem - e aí sem apoio estatal, já que pouco regulados e fiscalizados, provocarão impactos reais e relevantes na sociedade chinesa e na sua economia. E para piorar a situação, parte da bolha da bolsa chinesa é financiada por esses esquemas, consequentemente, uma queda abrupta do preço dos ativos não permitirá o pagamento dos empréstimos contraídos como margem.
O crescimento da classe média chinesa e as iniciativas empreendedoras de parte da população urbana incentivaram o aumento da atividade bancária, fatos que, aliados às práticas pouco competitivas de juros, fizeram crescer os bancos e seus serviços. Agora, a desalavancagem é igualmente poderosa. Muitos consumidores interromperam seu ciclo de consumo e muitas empresas individuais não estão conseguindo sobreviver.
Os efeitos no sistema financeiro, se ainda não inteiramente conhecidos, serão sentidos, já que alguns estimam que essa carteira represente quase 30% do total dos ativos dos bancos. Finalmente, gigantes da internet, como Alibaba e Tencent, iniciaram movimentos frenéticos em serviços financeiros em meios de pagamento. No caso do Alibaba, o Yu'E Bao que transfere saldos remanescentes em conta corrente em fundos de investimento (algo como uma conta remunerada) já está na casa dos bilhões, ainda que haja pouca (ou quase inexista) regulação.
É claro que a reforma financeira global patrocinada pelo FSB, do qual a China é signatária, com novos mecanismos para resolução bancária (G-SIBs, TLAC, "bail-in", etc), pode ajudar a aplainar o árido deserto, mas o mesmo acordo regulatório global, com o advento de Basileia III, pode demandar capital na casa dos bilhões apenas para manter os índices de exigibilidades atuais.
Assim, razões de preocupação há de sobra. Muitos acreditam que o início da turbulência chinesa é apenas um resfriado, enquanto outros não hesitam em afirmar que se trata de uma forte gripe, que poderá se transformar numa pneumonia, parecida com a crise asiática de 1997. Talvez isto seja exagerado, e é sempre bom não disseminar o pânico, mas não resta dúvidas de que a bonança dos ventos chineses para os mercados emergentes acabou.

É evidente que a China ainda poderá crescer 5% a 7% ao ano - o que convenhamos, não é pouco - mas até para manter esses níveis atuais, o sistema financeiro chinês precisará de mais disciplina de mercado e de políticas públicas mais consistentes e transparentes.

Tuesday, September 8, 2015

Os Donos do Poder: Formação do Patronato Político BrasileiroOs Donos do Poder: Formação do Patronato Político Brasileiro by Raymundo Faoro
My rating: 5 of 5 stars

De Dom Joao I (1380) a Getúlio Vargas (1930) o capitalismo político, ou o pré-capitalismo, foi conduzido por uma comunidade política que supervisiona os negócios públicos com interesse pessoal. O súdito, a sociedade, a forma de domínio: o patrimonialismo, mais flexível que o patriarcalismo. No molde mercantilista da atividade econômica se desenvolveu a lavoura de exportação da colônia a Republica passando tanto pelo manufaturismo pombalino como o pelo delírio industrialista do encilhamento O patrimonialismo estatal adota o mercantilismo como a técnica de operação da economia, incentivando o setor especulativo voltado ao lucro como jogo e aventura.

Enquanto o sistema feudal separa-se do capitalismo, o patrimonialismo se amolda as transições. O domínio patrimonial, constituído pelo estamento, apropria as oportunidades econômicas de desfrute dos bens, numa confusão entre setor público e privado. O capitalismo antigo seria devorado pelo capitalismo industrial, não fosse a flexibilidade do processo patrimonialista em canibaliza-lo. A persistência secular da estrutura patrimonial adotou o capitalismo da técnica sem aceitar sua alma liberal.

O Estamento de ar aristocrático se burocratiza tecnicamente. A estrutura patrimonial oferece pontos de apoio moveis valorizados aqueles que mais a sustentam, sobretudo capazes de fornecer-lhe os recursos financeiros para sua expansão. O estamento burocrático ultrapassa a regulamentação formal da ideologia liberal, prescrições financeiras e monetárias e regimes concessões estatais.

Acima das classes o aparelhamento político. Para Marx, Napoleão III sustentado por uma classe, dançava entre as classes, entre contradições e troca de parceiros, falso arbitro de interesses em conflito. O próprio bonapartismo e a aparência democrática está presente em Dom Pedro II, Napoleão III, Bismarck e Getúlio Vargas, pai do povo não como mito carismático, mas como bom príncipe. O estamento, como elite de poder, converte a burocracia numa realidade em si, desmentindo a neutralidade técnica da última. No patrimonialismo, durante a emergência das classes, procuram estas a nacionalizar o poder, apropriando-o, para que se dilua a elite. O estamento burocrático em lugar de integrar, comanda, não conduz, mas governa. E, assim, manifesta-se com seu prestígio cultural: O brasileiro que se distingue há de ter prestado sua colaboração ao aparelhamento estatal, não na empresa particular, ou na sua contribuições a cultura, mas numa ética confuciana do bom servidor.

Joaquim Nabuco sugeriu criar lei que forçasse o cumprimento das outras leis e criticou o hábito da classe política alheia a seus governados constituir leis antes dos fatos, uma ordem política e uma vida pública que os costumes e antecedentes históricos ainda não formataram. Chamando, finalmente, tal política de silogística cuja base são as teses e não os fatos. A situação, o mundo e não o país. Os habitantes, as gerações futuras e não as atuais.

A carapaça administrativa trazida por Tome de Souza e reforçada pela transmigração de Dom João VI forjaram instituições anacrônicas que frustram o florescimento das terras virgens. Ao povo resta o direito obrigatório de escolher entre opções que ele não formulou e que não lhe atendem. Nesse processo não haveria apenas uma paralisia ibérica. A um corpo renovador, expansivo e criador, se agregam nações modernizadoras, mas dentro de projeções de seu próprio passado. O Estamento forma o elo vinculador com o mundo externo, que pressiona pelo domínio de seus padrões incorporando as novas forças sociais. A transmigração do soberbo estamento formado com Mestre de Avis consolida-se até o fim do Império de Dom Pedro II e seus estadistas nativos. A estes cumpre a complexa tarefa de dar um sentido ao país mesclando costumes arcaicos com ideias modernas. Os modernizadores atuam com pressuposto da incultura e o povo alheio sem convívio intimo quebra o vínculo espiritual a ponto de hoje nossos políticos condenarem a pena morte da Indonésia enquanto a OEA condena nossas PMs por crimes contra a humanidade.

Para Trotsky a desigualdade de ritmo, produto do processo histórico, será mais manifesta nos países atrasados:

Olhos postos no país atrasado onde o Estado absorve parte da sua fortuna, enfraquecendo todas as classes, burocratizando-se, nota que adaptação ao ritmo mundial impõe a combinação de bases diversas do processo histórico.

O ponto de referência seria o capitalismo moderno decantado por Smith, Marx, Weber. Trata-se de um mundo acabado, moderno, numa concepção linear de história. Assim, o burocrata conta com o historiador que cria uma ordem racional da história que não só por ser racional cria uma história verdadeira, substituindo o fato bruto pelo racional.

Um viajante americano nos anos 1920 observou:

Existe no brasil uma massa analfabeta chamada povo e os traidores do povo conhecem o conforto de moradias arejadas, conhecem mais o exterior que o próprio pais, o governo eh a função para a qual julgam ter nascido. Dualidade que oscila entre a decepção e o engodo.

A crise e exaustão do sistema sempre começava com o nacionalismo. Desde o Antiluso do jacobinismo no início da republica, seja e Epitacio Pessoa ou Artur Bernardes durante a república. Nas três intervenções militares 1889, 1930 e 1945 todas levaram a mudanças constitucionais. Mas nem isso foi capaz de resistir ao vírus patrimonialista perene e incubado no espírito de formação de nossa antiga metrópole com o Mestre de Avis duzentos anos antes da chegada de Cabral.







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Friday, September 4, 2015

Self Illusion: Why There is No 'You' Inside Your Head

The Self Illusion: Why There is No 'You' Inside Your Head [Extract]The Self Illusion: Why There is No 'You' Inside Your Head [Extract] by Bruce M. Hood
My rating: 3 of 5 stars

I first heard of Bruce Hood from Maria Poppova, on a brainpickings post, almost a year ago. This was right before going on my second trip to India. In this article, Poppova presented many interesting ideas from this author and recommended The Self Illusion for those interested in understanding the self as an entity derived from a biological phenomenon that is the mind. An electrical fish creates electrical waves to avert predators, we primates use the electrical discharges of our neurological system to create our spirit and thus our self. This idea, despite simple, was very striking on me. I immediately ordered the book, but since it would be shipped from overseas it didn’t make till left to India. Given the impossibility of bringing the book on my trip, I decided to buy other publication available in the local market. Then I stumbled upon to his other book SuperSense which argues how we tend to trick ourselves turning the unbelievable into believable. This reading couldn’t be more appropriate while having a “spiritual” trip through the Indian subcontinent. Religion is undeniable powerful and it take advantages on people’s incapability to accept that their ego is as perishable as their body. People need to believe that through religious transcendence, magic is plausible and death is not a definite event. It is an important social manifestation since it can calm the spirit from its anxieties regarding its origins and its ends. Religion works to split the material phenomena which is the body from its electrical phenomena from where comes the mind, therefore it can trick the ego when it faces despair and death. Hood maintain that everyone is born with a tendency to have this "Super Sense" and social institutions, such as religion, profits on that. I still think that any religion mythology is a rich source of insights for human psyche and for how it dealt since our even our ignorant and “enlightened” society still lacks for peace of the soul like the first Neandhertal did. Consequently, it helped me to better understand the spiritual experiences I had not only in this trip but also with my later Ayhuasca experience. Where my divine experience was realizing that there is a much bigger force than me and that I am just a machine as full of grace, blood, meat and bones that will stay alive during an amount of time impossible to totally grasp the origins its origins even with all the clear evidences of the absence of magic and super creator. Besides, the topics discussed are all a vanguard on neuroscience the text is very well written and fluid, making the reading experience more interesting.

With this in mind, I started reading the Self Illusion three weeks ago. The book was very helpful to better understand the dynamics that ego creates to justify itSELF and how we are tricked to believe that we transcend our body. Like his previous books, Hood present empirical evidence based on common sense life events of and the last brain science discoveries supported by philosophers (such as Daniel Dennet) and cognitive psychologists (Pinker and Kahnemann).He asserts that THE SELF is not programmed to identify itself. That's why many animals from Birds to Dogs or even we, when little, take some time to understand what is our reflection on mirrors. He also argues about the window of opportunity of brain development, such as a chick is programed to identify its mom to follow to and from to the nest. Identically in the Super Sense, Bruce Hood argues again how babes when born don't have a clear sight, they just want to absorbe as much information as possible, they don't know exactly the shapes of heads of their moms just like chicks don't know who to follow, despite knowing they have to follow. Therefore, the evidence would suggest that like for Noam Chosmky we have built-in traits genetically evolved and inherited to identify the sources of security to better deal with natural selection imposed by the environment. An illusion is not what it seems and for most of us, we consider our self as some essential core of who we are. For example, most us think that we see the world continuously throughout the waking day when in fact we only see a fraction of the world in front of us, and because the brain blanks out our visual experience every time we move our eyes in a process called saccadic suppression, we are effectively blind for at least 2 hrs of the day. Although the brain is just a loom of electric neurons and contradictory impulses, the self makes us whole how the singularity of the self emerges from the cacophony of mind and the mess of social life he self – this entity at the center of our personal universe – is actually just a story, a “constructed narrative”.

Our brains think in stories. The same is true for the self and I use a distinction that William James drew between the self as “I” and “me.” Our consciousness of the self in the here and now is the “I” and most of the time, we experience this as being an integrated and coherent individual – a bit like the character in the story. The self which we tell others about, is autobiographical or the “me”. The neuroscience supports the claim that self is constructed readily confabulate an explanation to reconcile information unconsciously processed with information that was conscious Ramachandran describes patients who are paralyzed but deny they have a problem. These are all extreme clinical cases but the same is true of normal people. Nietzsche said it first: “My hypothesis is the subject as multiplicity,” we really just a collection of “splinters and mosaics”. We have no direct contact with reality because everything we experience is an abstracted version of reality that has been through the processing machinery of our brains to produce experience. If the human condition it is not materialist, then an alternative good explanation must be non-materialist. Show me good evidence for souls and spirits and then I will be forced to change my view about how plausible is the hypothesis on how supernatural entities can inhabit our bodies. In contrast, we know that if you alter the physical state of the brain through a head injury, dementia or drugs, each of these changes our self and, thus, easily to promote the necessary delusions to make god possible.

Nietzsche said it first: “My hypothesis is the subject as multiplicity,” we are just a collection of “splinters and mosaics”. As the philosopher Gilbert Ryle pointed out, when it comes to the mind you cannot be both the hunter and the hunted. I think that he is saying that the brain creates both the mind and the experience of mind. An illusion is not what it seems and for most of us, we consider our self as some essential core of who we are. Deconstruction of the Self Illusion is hard to pin down since we consider our self as some essential core of who we are.


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Thursday, August 13, 2015

RMB

No final de 2015, o Fundo Monetário Internacional realizará sua revisão quinquenal de cesta de moedas que seus membros contam como referência para composição de suas reservas internacionais oficiais. Em maio próximo, o FMI iniciará discussões sobre a possibilidade de adicionar os Renminbi às quatro moedas que ele usa para compor seus Direito Especiais de Saques (DES).



Entretanto, segundo o Financial Times, o Renminbi ainda não é uma moeda conversível pré-requisito padrão de moeda de reserva. Mesmo assim, o Renminbi é a segunda moeda mais utilizada no financiamento do comércio internacional devido à participação das exportações globais da China que continuam a crescer, desde quando se tornou a maior economia exportadora do mundo, em 2007. Além disso, o CNY ultrapassou recentemente o dólar canadense, tornando-se a quinta moeda mais negociada no mundo.


Se o Renminbi se juntar a cesta DES, por definição, tornar-se-ia uma moeda de reserva. Os bancos centrais, com isso, poderiam acumular o Renminbi sem acarretar reduções em seus volumes de reservas (o Renminbi passaria a fazer parte das opções de acúmulo de reservas), assim como arranjos de Swaps em Renminbi poderiam ser somados às reservas disponíveis dos países.

Isso implicaria mudanças na ordem financeira mundial e poderia impulsionar a criação de uma zona de Renminbi para equilibrar a zona de dólares que tem dominado o sistema financeiro global desde o fim da segunda guerra. Isso não apenas reduziria os custos de financiamento para as empresas chinesas, mas ajudá-las-ia a expandirem-se no exterior, contribuindo ainda mais para a criação de uma ordem financeira Sinocêntrica.

+ Informações:


A Samsung Electronics delineou planos para iniciar negociação do Renminbi na Coréia do Sul na liquidação de operações com suas filiais na China, em uma aposta para aproveitar as oportunidades de uma internacionalização da moeda da China. Esta iniciativa ajuda a promover Seul como um centro de negociação off-shore do Renminbi, acompanhando movimentos semelhantes para Hong Kong, Londres, Frankfurt e Cingapura. Impulsionado em grande parte pelos bancos sul-coreanos e chineses que oferecem produtos de alto rendimento, depósitos denominados em Renmenbi na Coreia cresceram de $80 milhões, em 2012, para $18,6 bilhões, em fevereiro de 2015, embora apenas 1,7% do comércio entre os dois países seja liquidado na moeda chinesa. Apesar da enorme competitividade de centros como Hong Kong, Seul espera que os investidores estrangeiros sejam atraídos para o seu mercado de Renminbi na medida em que ele ganha liquidez.

Tuesday, August 11, 2015

O lugar do Brasil no sistema multilateral financeiro do século XXI: uma análise dos fatores domésticos e estruturais e seus impactos Rubens de S. Duarte1

O lugar do Brasil no sistema multilateral financeiro do século XXI: uma análise dos fatores domésticos e estruturais e seus impactos Rubens de S. Duarte1 Resumo: No início do século XXI, uma série de fatores estruturais e domésticos criaram um ambiente favorável para que o Brasil se projetasse internacionalmente na agenda financeira. Esse período foi marcado por intensa produção intelectual e reflexão sobre o papel do país no mundo, que se traduziram na busca por uma política externa autônoma e ativa. O Brasil, em articulação com outros países do Sul, apresentou propostas para os principais foros multilaterais que atuam no setor financeiro (como o Fundo Monetário Internacional, o G-20 e o Fórum de Estabilidade Financeira), assim como promoveu reformas institucionais em seu processo de tomada de decisões em política externa. Na segunda década dos anos 2000, fatores domésticos e estruturais abalaram o ambiente que proporcionara o citado período de grande ativismo na política externa brasileira. Com isso, esse artigo busca identificar quais foram os ganhos no plano interno e no multilateral conquistados nesse período, assim como indicar os principais empecilhos para que outros pleitos brasileiros não tenham sido contemplados. Palavras-chave: política externa brasileira; sistema financeiro; análise de política externa; G-20; FMI; FSF; FSB. Introdução No início do século XXI, alguns atores que tinham menos voz no cenário mundial, passaram a ter mais relevância – é o caso por exemplo, de Estados do Sul político, de instituições do setor privado e de redes e movimentos sociais (MILANI et al., 2015; MAWDSLEY, 2012; HURRELL, 2007; NARLIKAR, 2010; DEGNBOL-M. e ENGBERG-P., 2003; LANCASTER, 2007). Essa mudança ocorreu com diferentes intensidades em diversas agendas internacionais, como no regime de comércio, de cooperação para o desenvolvimento, em mudanças climáticas e em Direitos Humanos. No regime financeiro não foi diferente. 1 Rubens de S. Duarte é doutorando em Política e Estudos Internacionais na University of Birmingham (Reino Unido), Mestre em Ciência Política pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP/UERJ), Bacharel em Relações Internacionais pelo IRI/PUC-Rio, Bacharel em Ciências Jurídicas pela UNIRIO e membro ativo do Laboratório de Análise Política Mundial, antena Rio (Labmduno-Rio). Todas as imagens neste artigo são de produção própria, feitas no âmbito do Ateliê de Cartografia do Labmundo, vinculado ao IESP/UERJ, sob coordenação do Dr Carlos R. S. Milani. Em um primeiro momento, os impactos da crise financeira de 2008 foram mais sentidos pelos países do Norte, o que criou dúvidas sobre a credibilidade das normas internacionais existentes por eles criadas (DOCTOR, 2015). Por sua vez, a emergência de países do Sul global (como o Brasil, a Índia, a África do Sul, a Turquia e, sobretudo, a China) contribuiu para uma redistribuição de poder mundial não desprezível (MILANI et al., 2015). Os pleitos históricos por reformas no sistema internacional que permitisse maior pluralidade na elaboração das normas foram legitimados (BRANCO et al., 2012). Somado ao relaxamento restrições sistêmicas sobre a atuação dos países emergentes, o cenário político e econômico brasileiro no início do milênio também contribuiu positivamente para o aumento de autonomia em sua política externa. A estabilização macroeconômica na década de 1990, assim como a equalização da dívida externa, o aumento do preço das commodities e a vitória eleitoral de um partido de esquerda no século XXI colaboraram para o aumento de recursos materiais, políticos e simbólicos do país, que foram usados na implementação de uma política externa mais autônoma também na agenda financeira (MARIGONI et al., 2014). A diplomacia presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva e sua relação com o Chanceler Celso Amorim fortaleceram o momento de grande reflexão do papel do Brasil no mundo (LIMA e DUARTE, 2013). A combinação dos ambientes internacional e doméstico favoráveis influenciou diretamente a postura brasileira em foros internacionais (como no Fundo Monetário Internacional e no G- 20), bem como o jogo político de formulação da política externa. O governo brasileiro entendeu que era momento de dar ênfase ao âmbito multilateral financeiro. A fim de viabilizar e fortalecer essa opção pelo multilateralismo, o governo brasileiro buscou articular-se com outros países emergentes (LIMA, 2005; SARAIVA, 2007) e fazer reformas institucionais no funcionamento dos órgãos (DUARTE, 2013). Entretanto, a segunda década do milênio, foi acompanhada da reversão desse momento favorável, tanto no cenário doméstico quanto no sistêmico. Essa nova realidade provocou uma mudança de estratégia do governo brasileiro em sua política externa. Todavia, faz-se importante analisar quais foram os reais ganhos (políticos, econômicos, institucionais e simbólicos) do Brasil, no século XXI, assim como debater a estratégia da política externa brasileira diante do cenário adverso da segunda década do milênio. Este artigo não se propõe a fazer um estudo detalhado da posição brasileira nos diversos foros internacionais sobre temas financeiros, mas busca um debate mais amplo sobre a estratégia do governo brasileiro no sistema financeiro e os fatores que a influenciam. A argumentação é no sentido de que o governo brasileiro decidiu aproveitar o momento favorável do início do século e dar ênfase às ações no âmbito multilateral, mas, diante da dificuldade de manter a estratégia escolhida, a política externa passou a favorecer outros tabuleiros, sem prejuízo dos avanços que obteve no multilateralismo. Para cumprir esse objetivo, este artigo é dividido em três partes, além da introdução: 1- a descrição do cenário internacional no imediato pós-crise e o debate sobre a opção brasileira pelo multilateralismo; 2- a apresentação dos fatores sistêmicos e domésticos que levam à retração dos incentivos ao multilateralismo e a consequente mudança de ênfase; e 3- comentários finais. O artigo é baseado na revisão bibliográfica sobre o tema, na análise de documentos oficiais, assim como em entrevistas com funcionários do Ministério das Relações Exteriores, do Banco Central do Brasil e do Ministério da Fazenda (Anexo I). Todas as entrevistas foram conduzidas pelo autor em duas ocasiões: 1- em 2012 e em 2013 no âmbito da pesquisa de Mestrado;2 e 2- em maio de 2015, para a produção deste artigo. Todavia, alguns entrevistados solicitaram anonimato. O imediato pós-crise e a opção pelo multilateralismo O foco dessa seção é a análise política das primeiras consequências e respostas dos países à crise financeira de 2008, assim como dos fatores que motivaram a escolha do governo brasileiro pela ênfase no âmbito multilateral. Entretanto, este artigo não se propõe a fazer um debate técnico sobre esse tema, o que exigiria esforço que o espaço não permite, mas prioriza uma análise política desses fatores. A crise financeira de 2008, diferentemente de outras anteriores, teve sua origem no global shadow banking system, denominado mercado paralelo, em português. O mercado paralelo é formado por diversas instituições financeiras (como bancos de investimento, seguradoras e outros agentes financeiros) que não eram contemplados pelo acordo de Basiléia II, que representava as normas de supervisão bancária na época (CORAZZA, 2005). Basileia II foi criado com base no princípio neoliberal da autorregulação, que defendia que as instituições financeiras seriam os atores mais apropriados para monitorarem a si mesmos e as operações financeiras, criando um sistema em que os atores financeiros eram seus próprios juízes (CARVALHO e SANTOS, 2008). As primeiras respostas dos governos para a crise foram no âmbito doméstico, no sentido de devolver liquidez e confiança ao mercado, aquecendo a demanda e evitando a evasão fiscal (FARHI e CINTRA, 2009). Os governos de vários países lançaram pacotes de ajuda e, em caráter inédito, contemplaram agentes do mercado paralelo. Entre diversas ações para evitar a evasão fiscal, uma das medidas que mais impactou no cenário internacional foi o pacote doméstico estadunidense (mas com efeitos extraterritoriais) chamado Hiring Incentives to Restore Employment Act. Apesar de importantes, as medidas unilaterais não seriam suficientes para devolver liquidez e confiança para o sistema financeiro. As normas internacionais estavam diante de uma crise de legitimidade (STUENKEL, 2013). A quebra do Lehman Brothers demonstrou a insuficiência das normas internacionais para o setor financeiro para evitar a crise. Os países do Norte, que tiveram participação significativa na elaboração dessas normas, eram os mais atingidos pelos efeitos da 2 Dissertação defendida em março de 2013 para a obtenção do título de Mestre em Ciência política, no Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP/UERJ), orientada pela Drª Maria Regina Soares de Lima e intitulada Repolitizando a política externa financeira: uma análise da formulação da política externa brasileira para o setor financeiro pós 2008. crise. Os países emergentes, que historicamente demandavam a reforma das instituições financeiras, foram menos atingidos em um primeiro momento. Diante desse cenário, os Estados avaliaram que era necessário intensificar o debate sobre temas financeiros, dialogando com outros países do Sul (DOCTOR, 2015; BRANCO et al., 2012). Diante da crise de legitimidade dos países do Norte, do fortalecimento dos países emergentes e do momento doméstico favorável após a estabilização macroeconômica e equalização da dívida externa, o governo brasileiro avaliou que seria o momento oportuno para enfatizar sua ação no âmbito multilateral. Havia o entendimento de que o Brasil, ao invés de contorná-las, deveria apostar na reforma das instituições multilaterais existentes. A busca pela reforma do processo decisório nos foros internacionais, de modo a trazer maior pluralidade e representatividade para as instituições, é uma bandeira antiga dos países do Sul, estando presente, por exemplo, no G-77, no Movimento dos Não Alinhados, na proposta para uma Nova Ordem Econômica Internacional e no Livro Azul do G-24 (MILANI e DUARTE, 2015; VIEIRA, 2012; LIMA, 2005). A opção de enfatizar o tabuleiro multilateral pode ser explicada por diversos fatores. Em primeiro lugar, há, segundo a narrativa oficial do Itamaraty, o gosto brasileiro pelo multilateralismo (AMORIM, 2011). As negociações multilaterais têm o potencial de gerar maior impacto positivo no desenvolvimento mundial e, particularmente, do Brasil, devido a diversidade das suas relações internacionais em termos setoriais e geográficos (BRANCO et al., 2012). Se eficaz, a busca pelo governo brasileiro da reforma do processo decisório pode colocar o Brasil na mesa de negociações sobre as normas internacionais. A participação brasileira nesses foros, além de criar um canal formal para que o Brasil defenda seus interesses nessas instituições internacionais, também gera capital simbólico. Ao aumentar a participação nesses foros, além do ganho em seu poder de voto, há o prestígio de sentar ao lado das maiores potências mundiais e ser reconhecido como um país responsável por eles (DOCTOR, 2015). Era, portanto, o momento para o Brasil fortalecer a busca pela reforma das instituições multilaterais financeiras, a fim de reduzir a superrepresentação dos países do Norte. Diante da opção pelo multilateralismo, era necessário reformar as instituições domésticas, a fim de viabilizar uma repolitização da política externa brasileira (DUARTE, 2013). Ao longo décadas de 1980 e 1990 a política externa para o setor financeiro encontrava fortes restrições sistêmicas. No cenário internacional, a ideologia neoliberal ganhava força, com os planos de ajuste estrutural. No âmbito doméstico, a crise da dívida e a alta inflação fizeram o governo brasileiro buscar auxílio financeiro internacional. Nesse período, a política externa brasileira para o setor financeiro tinha como principal função a negociação dos pacotes de compromisso internacional diante da necessidade brasileira de financiamento e recuperação econômica. Na medida em que o país passava por tamanhas dificuldades, havia pouco espaço e legitimidade para demandar maior participação do país nos foros internacionais. Com isso, atores que tinham maior domínio dos termos técnicos e capacidade de negociar esses assuntos eram privilegiados na formulação da política externa. A Secretaria de Assuntos Internacionais (SAIN) do Ministério da Fazenda e o Departamento de Assuntos Internacionais (DERIN) do Banco Central ganharam espaço na formulação da política externa, em detrimento do Itamaraty. Diante da oportunidade de repolitizar a política externa brasileira no século XXI, o Ministério das Relações Exteriores voltou a ganhar espaço em temas financeiros, para que ele incorporasse à postura brasileira uma dimensão política, que fosse capaz de repensar o papel do Brasil nas instituições do referido regime. O Departamento de Assuntos Financeiros e Serviços (DFIN) foi criado em 2010, por meio de uma ampliação de uma coordenação-geral dentro do Itamaraty.3 Ainda que não exista clara divisão de funções ou uma instituição que promova o diálogo entre os três órgãos públicos citados, o DFIN passou a ser o departamento do Itamaraty responsável por formular a política externa brasileira para o setor financeiro, em conjunto com a SAIN e com o DERIN (DUARTE, 2013). A elevação do G-20 a um foro de cúpula, em 2008, foi recebido com entusiasmo pelo governo brasileiro. Desde sua criação, em 1999, o Brasil faz parte do G-20, que foi pensado como um foro para que ministros da fazenda e presidentes de banco central dialogassem sobre temas financeiros. Na declaração final de Pittsburgh, em 2009, os países do G-20 determinaram que aquele grupo seria o principal foro de discussões para assuntos de cooperação econômica. Com isso, não apenas o Brasil estaria presente no foro, mas também estariam representados outros parceiros do Sul, como a China, a Rússia, a Índia e a África do Sul (STUENKEL, 2013). Por meio do G-20, o Brasil, em articulação com outros países do Sul, poderia pressionar pela reforma de outras instituições. Um dos principais objetivos do Brasil e de seus parceiros era a reforma do sistema de quotas do Fundo Monetário Internacional (FMI). No entender do Brasil, as reformas poder decisório do FMI ao longo do tempo não acompanharam as mudanças no cenário econômico, político e social que ocorreram no pósSegunda Guerra Mundial (imagem 1). Alguns países, principalmente os europeus, têm poder de voto que não condiz com o peso no cenário internacional, enquanto que os países emergentes estão subrepresentados. O Brasil e outros países emergentes aumentaram os aportes ao FMI e forcaram a negociação de uma nova reforma sobre as cotas, que diminuísse o déficit de representação dos países do Sul. 3 De acordo com a organização institucional do Ministério das Relações Exteriores, os Departamentos estão em um nível hierárquico superior às Coordenações-Gerais. Durante a reunião do G-20 em Londres, em 2009, foi criado o Financial Stability Board (FSB), em substituição ao Financial Stability Forum (FSF). O FSB foi criado para, em conjunto com o FMI, monitorar o sistema financeiro internacional, assim como sugerir a criação de novos mecanismos para manter o bom funcionamento dos mecanismos de supervisão. Todavia, a mudança mais significativa não foi em relação à função do FSB, mas quanto a sua composição, que passava a incluir todos os países do G-20. Também a partir de 2009, o Brasil passou a integrar com direito a voto o Comitê sobre Mercados no âmbito do Banco de Compensações Internacionais e o Comitê sobre Sistema Financeiro Global, ambos atuando na monitoração e supervisão do mercado financeiro. O período imediato após a crise de 2008 representou um momento de perda de credibilidade das normas financeiras internacionais, assim como de fortalecimento da legitimidade do Brasil devido a fatores domésticos e sistêmicos. As respostas para a crise financeira ocorreram tanto a nível nacional e multilateral, devido ao entendimento de que era preciso incluir novos atores nos debates sobre a agenda financeira, para devolver confiança ao mercado. Para aproveitar o momento oportuno, o governo brasileiro decidiu dar ênfase no tabuleiro multilateral. Esse período e a aposta brasileira no multilateralismo rendeu frutos: o Brasil integrou diversos foros internacionais, incentivou debates sobre a reforma do poder decisório (principalmente no FMI) e re-estruturou a burocracia estatal para a formulação da política externa brasileira. A criação do DFIN foi fundamental no refortalecimento da dimensão política no discurso brasileiro no setor financeiro internacional. A próxima seção debate o cenário internacional e doméstico da segunda década do século XXI, assim como a resposta da política externa brasileira para esse novo cenário. A reversão do cenário e a mudança de ênfase A segunda década do século XXI apresentou mudança significativa no cenário internacional e no âmbito doméstico brasileiro. Esses fatores enfraqueceram os debates sobre a reforma das instituições internacionais, diminuindo a capacidade dos países do Sul, inclusive do Brasil, de influenciar nas decisões internacionais. Esta seção debate os avanços conquistados no início do século XXI, assim como a mudança de estratégia da política externa brasileira diante de um cenário com menos incentivos ao multilateralismo. Marta Castello Branco (2013a) identifica seis principais fatores para que o G-20 não tenha atingido seus objetivos iniciais e expectativas. Expandindo a análise para o sistema financeiro em geral é possível identificar outros fatores adicionais que podem ser resumidos em cinco tópicos: 1- falta de consenso em tópicos importantes e de longo-prazo; 2- postura conservadora dos países do Norte em abrir mão do seu poder institucional estabelecido; 3- falta de poder coercitivo das instituições internacionais no setor financeiro; 4- eventos internacionais em outras agendas que mudaram o jogo político; e 5- diferentes níveis de crescimento e recuperação econômica. Mesmo no período imediatamente pós crise, os debates sobre as medidas a serem tomadas no multilateralismo esbarraram no conflito entre opiniões diferentes. No G-20, havia a posição liderada pela Alemanha, favorável à austeridade, a representada pelos Estados Unidos, que defendia o crescimento com moderados incentivos governamentais, e a dos países emergentes, com o crescimento por meio de um pensamento não liberal (BRANCO, 2013a). Com isso, grande parte das medidas que foram levadas a diante eram de curto-prazo. Algo semelhante ocorreu no FSB, em que somente avançaram os temas em que havia certa harmonia de proposta diante do reconhecimento de que o sistema financeiro é global e interconectado (FARHI, 2011). A crise financeira de 2008 demonstrou a necessidade evidente de aumentar as reservas obrigatórias para os bancos universais, assim como monitorar e regular a ação do mercado paralelo. Consequentemente, medidas nesse sentido foram aprovadas, ao contrário de projetos mais ambiciosos como taxar operações de câmbio ou criar maior controle sobre os hedge funds. Além da falta de consenso sobre temas relevantes, as reformas também esbarraram na postura conservadora dos países do Norte. A demora do Congresso estadunidense em aprovar a reforma das quotas do FMI, aprovada em 2010, pode ser considerada simbólica nesse sentido.4 O re-fortalecimento do G-7 também pode ser citado como exemplo dessa resistência dos países do Norte em tornar as discussões sobre a agenda internacional mais plurais e participativas. Após um período no início do século XXI em que alguns debates foram levados ao G-8 ampliado (com a participação de países emergentes na qualidade de convidados) e da posterior elevação do G-20 a foro de cúpula (com a participação de países do Sul na qualidade de membros efetivos), o G-7 representa a volta a um estágio menos plural. O terceiro fator relevante para que as instituições internacionais não tenham aprofundado as reformas é a natureza institucional. As instituições do setor financeiro não têm poder coercitivo (BRANCO, 2013a). Muitas decisões tomadas nos foros internacionais são recomendações ou acordo entre os membros, 4 O Congresso estadunidense não aprovou a reforma até o momento em que este artigo foi escrito, em 30 de maio de 2015. com prazos longos para a adequação. Some-se a isso a informalidade do G-20. Diferentemente de outras instituições, como o FMI, Banco Mundial e o FSB, o G-20 não é uma organização formal, não tem sede, não tem tratado constitutivo e, consequentemente, não é uma pessoa jurídica de Direito Internacional. Os temas a serem discutidos no G-20 variam de acordo com os interesses e empenho do país que ocupa a presidência rotativa (VIANA e CINTRA, 2010). O cenário político mundial também mudou significativamente devido a fatores externos da agenda financeira, que interferiram nas relações entre países relevantes nas relações internacionais. A crise na Síria afetou diretamente as discussões na cúpula do G-20 em St. Petersburg. Com o desconforto político causado pelas divergências quanto à condução da questão síria, temas econômicos, como a crise na Zona do Euro, ficaram em segundo plano. A reunião de 2013 se resumiu a tratar de temas como crescimento econômico e evasão fiscal (BRANCO, 2013b). A interferência de assuntos de outras agendas nos foros financeiros voltou a se repetir em 2014. A instabilidade na Ucrânia criou um conflito entre a Rússia e a Europa, esta apoiada pelos Estados Unidos. A Austrália, que ocupava a presidência rotativa do G-20, ameaçou banir a participação do presidente russo Vladmir Putin e, eventualmente, da Rússia.5 Com isso, os países emergentes, que em alguns temas contam com a Rússia como aliada nos foros multilaterais, tiveram que se mobilizar para contrapor essa proposta australiana, ao invés de focar na articulação de propostas no setor financeiro. Com o isolamento político da Rússia, os países emergentes perderam capital político dentro dos foros financeiros. Somado a isso, o enfraquecimento dos países emergentes também foi causado por motivos econômicos. Com a recuperação econômica, o G-20 perdeu protagonismo. Além disso, as velocidades diferentes de recuperação econômica geram poucos incentivos para a disposição dos países em cooperarem (BRANCO, 2013a). Algumas economias de países do Norte, como dos Estados Unidos e Reino Unido voltaram ao patamar anterior ao antes da crise de 2008. Outros casos apresentam a situação oposta, como é o da Grécia, ainda estão em circunstâncias críticas. O mesmo raciocínio pode ser aplicado no caso dos países emergentes, que começaram a sentir com maior intensidade os efeitos da crise, sendo que alguns menos (como é o caso da China e da Índia) e outros mais (como o Brasil). A lógica6 por trás desse argumento é baseada na percepção de que os países, quando estão passando por dificuldades, tendem a buscar soluções em conjunto. Todavia, quando a situação crítica é superada, a vontade de cooperar também diminui. A economia brasileira, principalmente a partir de 2013, enfrenta dificuldades diante dos impactos da crise mundial. Esse fator é agravado com a queda no preço das commodities, afetando o superávit comercial 5 SMYTH, Jamie (2014) “Australia threatens Russian president Vladimir Putin with G20 summit ban” in Financial Times. Disponível em acessado em 24/05/2015. 6 Argumento também presente em entrevistas feitas em maio de 2015 com diplomatas que trabalham com assuntos relacionados ao G-20. brasileiro, alcançado principalmente no final da primeira década do século XXI. Diante do cenário econômico adverso, a Presidente Dilma Rousseff anunciou em 22 de maio de 2015 cortes no Orçamento, que representam o maior corte nominal feito na história do governo brasileiro. As restrições sistêmicas na segunda década do século XXI são mais rígidas do que as verificadas na década anterior. Além disso, a situação da economia doméstica e o corte orçamentário também reduz a capacidade de atuação autônoma do Brasil no exterior. Diante de cenários doméstico e internacional diferentes, é necessário reavaliar as prioridades e estratégias, de acordo com o que é possível fazer com recursos escassos. Isso não significa que a política externa deixou de ser ativa, mas somente o entendimento de que o ambiente que incentivava a ênfase brasileira no cenário internacional não é o mesmo. A diferença de perfil entre o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua sucessora em promover diplomacia presidencial deve ser considerada. Todavia, é difícil quantificar quão significativo é esse fator, visto que as restrições externas são significativamente diversas no período de cada governo. Deve-se levar em conta que os outros países emergentes (como a China, a Índia e a África do Sul) também não vêm se destacando no cenário multilateral, o que sugere que não foi somente no ambiente doméstico brasileiro em que houve mudanças. Deve-se considerar que existiu no início do século XXI um momento propício para pressionar por reformas no sistema decisório internacional, mas essa janela de oportunidade passou, assim como o período de forte crescimento econômico nacional. Diante de cenários diferentes e de possibilidades reduzidas, é natural que a estratégia adotada pelo governo brasileiro seja repensada. Com menos incentivos no âmbito multilateral global, o governo brasileiro passa a dar ênfase a outros tabuleiros, como a articulação inter-regional e negociações bilaterais. No âmbito inter-regional, deve se destacar o relacionamento do Brasil com os demais países que formam o grupo BRICS. Os países que integram os BRICS têm capacidades, características, trajetórias e interesses heterogêneos (como, por exemplo, modelo econômico, organização política, matriz energética, composição da pauta de exportação, crescimento econômico e poder militar), mas encontraram um ponto em comum na busca pela reforma do poder decisório das instituições internacionais, de modo a conquistar maior protagonismo político (MILANI et al., 2015). As discussões sobre a criação de um banco de desenvolvimento dos BRICS, que já vinham sendo discutidas, tomaram maior corpo na cúpula de Durban, em 2013 (ABDENUR e FOLLY, 2015). O Banco de Desenvolvimento dos BRICS (BNB) foi apresentado pela diplomacia brasileira como um mecanismo complementar às instituições de fomento existentes, como o Banco Mundial e o FMI.7 Apesar da narrativa oficial, a criação do BNB demonstra clara insatisfação do grupo com as instituições existentes a ponto de criaram novas instituições (MILANI et al., 2015). Quando os interesses dos atores estão contemplados pelas 7 Fonte: sítio web do Itamaraty. Disponível em acessado em 25/05/2015. normas existentes, há pouco incentivo para que criem alternativas a elas. Os documentos assinados na VI Cúpula de Chefes de Estado e de Governo do BRICS,8 podem conter sinais de que o BNB, apesar de seu estágio inicial, foi criado com o intuito de formar instituições robustas. O documento constitutivo do BNB9 disciplina que o banco exercerá a função de fomento a projetos de infraestrutura e de desenvolvimento sustentável entre os BRICS e em outros países por meio da cooperação Sul-Sul. Com isso, o BNB exercerá uma função semelhante ao do Banco Mundial. A criação do BNB foi bastante celebrada e ganhou notoriedade, mas não foi o único arranjo importante para o setor financeiro na cúpula dos BRICS. Os países também deliberaram sobre o Arranjo Contingente de Reservas (CRA), que é uma instituição para prestar auxílio monetário de curto prazo a países com dificuldades em suas balanças de pagamentos.10 Se o BNB tem função semelhante ao do Banco Mundial, o CRA, por sua vez, foi criado com propósitos análogos aos do FMI. Também merece atenção a assinatura do Memorando de Entendimento sobre Cooperação entre Agências de Seguro de Crédito à Exportação do BRICS.11 O memorando de entendimento não apenas prevê o diálogo e projetos conjuntos das agências nacionais12 no âmbito de concessão de crédito para a exportação, mas também prevê a concertação política em debates internacionais sobre o tema. Os documentos assinados na VI Cúpula dos BRICS podem dar origem a uma densa rede de instituições financeiras controlada pelos BRICS. Ainda que exista forte assimetria entre os países dos BRICS (e, portanto, diferentes níveis de influência nas decisões dessas instituições), o fator a ser levado em conta é que o Brasil faz parte de um movimento para criar alternativas ao sistema internacional existente trancamento da pauta de reformas. Além do tabuleiro inter-regional, o governo brasileiro também passou a dar mais ênfase a negociações bilaterais. O Itamaraty, por meio do DFIN, negocia a assinatura de Acordos de Cooperação e Facilitação de Investimentos (ACFI). Os três primeiros acordos a serem assinados foram com 8 Ocorrida entre 14 e 16 julho de 2014 em Fortaleza e em Brasília. 9 Documento constitutivo disponível no sítio web do Itamaraty em acessado em 25/05/2015. 10 Artigo 1° do documento constitutivo disponível no sítio web do Itamaraty em acessado em 25/05/2015. 11 Memorando disponível no sítio web do Itamaraty em acessado em 25/05/2015. 12 Assinaram o documento a Agência Brasileira Gestora de Fundos Garantidores e Garantias S.A; a OJSC Russian Agency for Export Credit and Investment Insurance (EXIAR); a Export Credit Guarantee Corporation of India Limited (ECGC); a China Export & Credit Insurance Corporation (SINOSURE); e a Export Credit Insurance Corporation of South Africa SOC Ltd (ECIC). Moçambique,13 em 30 de março de 2015; com Angola,14 em 1° de abril de 2015; e com o México,15 em 26 de maio de 2015. Segundo entrevistados no DFIN, estão sendo negociados outros acordos semelhantes com países da América Latina e da África,16 sendo que a expectativa é que seja assinado ao menos um total de dez acordos até 2018. A partir de uma nota conceitual do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior em 2012 (e, portanto, já no governo da Presidente Dilma Rousseff), o modelo de ACFI foi criado por meio de diálogos informais entre o Itamaraty, Ministério da Fazenda e do Banco Central, com consultas ao setor privado (ONGs, redes e movimentos não foram consultadas). O debate sobre o modelo do ACFI representa a retomada pelo governo brasileiro da ênfase em acordos de investimentos, uma vez que nenhum dos 14 acordos Promoção e Proteção de Investimentos (APPIs) assinados pelo Brasil foram aprovados pelo Congresso Nacional.17 Além da maior ênfase em negociações bilaterais, o modelo do ACFI representa um contraponto normativo e simbólico ao modelo de investimento defendido pela OCDE (os citados APPIs). Segundo a narrativa oficial brasileira, o modelo desenvolvido pelo governo Brasileiro reflete as reservas históricas quanto a acordos que poderiam reduzir a capacidade do Brasil de legislar, ferindo a soberania. A crítica brasileira a esse modelo de proteção a investimentos pode ser verificada, por exemplo, nas negociações da Área de Livre Comércio das Américas (MILANI et al., 2015; AMÂNCIO, 2003). Segundo o discurso oficial, o modelo de ACFI foi pensado de modo a não ferir a soberania e ser flexível suficiente, a fim de adaptar-se de acordo com as particularidades do parceiro. Com isso, os acordos preveem cláusulas normativas tradicionais (como cláusulas sobre tratamento nacional, sobre nação mais favorecida e sobre compensação sobre expropriação de investimento), mas não contemplam a cláusulas de expropriação indireta.18 Além disso, o modelo de ACFI prevê a criação de mecanismos intergovernamentais de diálogo, para além de medidas arbitrais de solução de controvérsias, de modo a privilegiar o diálogo em detrimento 13 Notícia disponível no sítio web do Itamaraty em acessado em 25/05/2015. 14 Notícia disponível no sítio web do Itamaraty em acessado em 25/05/2015. 15 Notícia disponível no sítio web do Itamaraty em acessado em 01/06/2015. 16 O governo brasileiro concluiu as negociações sobre um novo acordo de investimentos com Malaui, que aguarda assinatura. O Itamaraty ainda negocia com a África do Sul, a Argélia, o Chile, a Colômbia, o Marrocos, o Peru e a Tunísia. 17 Fonte: sítio web do MDIC. Disponível em acessado em 25/05/2015. 18 Cláusulas de expropriação indireta são frequentemente usadas por empresas para processar o Estado, quando se sentem lesadas diante de algum ato governamental que não seja a expropriação direta. Por exemplo, empresas que se sentem lesadas com revogação de licenças para exercer sua função; revogação de concessões de exploração de determinado serviço; proibição de importação de materiais considerados nocivos, mas que são insumos importantes para a determinada empresa; e novas regulamentações ambientais que podem tornar a atividade das empresas menos lucrativa. do litígio. Por fim, como o próprio nome do acordo revela, há uma dimensão forte de cooperação entre o Brasil e os demais países. O ACFI busca identificar no diálogo com o país parceiro quais são os temas que demandam maior investimento e criar condições propícias para incentivar investimentos o desenvolvimento do parceiro. Essa movimentação brasileira no âmbito inter-regional e bilateral comprova que o governo brasileiro não está inerte no cenário internacional. Com a mudança do cenário doméstico e sistêmico e a consequente escassez de capacidades para adotar uma política externa autônoma e proeminente, o governo brasileiro concluiu que era necessário buscar alternativas ao âmbito multilateral. Com isso, enfatizou sua participação na assinatura de acordos de facilitação de investimentos, assim como na criação de instituições financeiras inter-regionais. Há, também, um caráter político e simbólico, em que o governo brasileiro envia uma mensagem não escrita para os seus parceiros na cooperação Sul-Sul e, também, para os países do Norte, demonstrando os princípios que o Brasil valoriza (como respeito à soberania, solidariedade e direito ao desenvolvimento). Essas ações, além de um ponto político e simbólico ao criar novas normas e instituições baseadas em princípios da cooperação Sul-Sul, também têm caráter econômico estratégico. Esse arcabouço institucional garante recursos e segurança para a internacionalização do capital brasileiro, dando suporte a empresas brasileiras para promoverem negócios internacionais. É importante ressaltar que, apesar da reversão do cenário internacional e a consequente mudança de estratégia do governo brasileiro, os ganhos obtidos na primeira década do século XXI não foram desprezíveis nem revertidos. As instituições internacionais no setor financeiro continuam sendo influenciadas pelas potências do Norte, assim como os países emergentes continuam sendo subrepresentados. A recusa do congresso estadunidense em aprovar a revisão das quotas do FMI pode ser usada como um exemplo disso. O refortalecimento do G-7 e o enfraquecimento do G-20 também denota que as reformas nas instituições não atenderam às expectativas brasileiras. Todavia, houve avanços institucionais. Ainda que as instituições estejam enfraquecidas e muitas negociações travadas, o Brasil fortaleceu seu direito de estar presente e votar nos foros financeiros internacionais. É possível argumentar no sentido de que sistema financeiro, apesar de continuar não sendo democrático, passou a ser mais plural (imagem 2). As burocracias brasileiras, que não participavam entusiasticamente dos diálogos no setor financeiro, passam a adquirir mais experiência em negociações internacionais, que pode ser usada em outras oportunidades. Além dos avanços nas organizações multilaterais, a reforma da burocracia brasileira também criou ganhos, que não foram revertidos na segunda década do século XXI. A criação do DFIN consolidou a dimensão política na postura brasileira na agenda financeira, que estava enfraquecida devido à preferência por atores que dominassem termos técnicos. Essa mudança institucional na burocracia brasileira permitiu que o Itamaraty fosse um dos principais atores na criação e na negociação de acordos de cooperação e facilitação de investimentos com outros países. Considerações finais A política externa brasileira para o setor financeiro no século XXI pode ser dividida em dois momentos que refletiram estratégias brasileiras distintas. A primeira década foi caracterizada pelo bom momento da economia nacional brasileira. Entre outros fatores que influenciaram o cenário doméstico brasileiro, pode-se citar a estabilização macroeconômica, a equalização da dívida externa e a alta no preço internacional das commodities. No plano internacional, os países do Sul emergiam economicamente e politicamente, o que permitiu que voltassem à tona os debates sobre a necessidade de reforma do poder decisório das instituições internacionais. Esse tradicional pleito dos países do Sul ganhou força diante da queda de legitimidade das normas internacionais, causada pela crise financeira de 2008. Diante de um cenário de aumento das capacidades nacionais e de relaxamento das restrições sistêmicas, o governo Brasileiro avaliou que aquele era o momento propício para articular-se com outros países emergentes e pressionar por reformas nas instituições internacionais. Essa decisão de enfatizar a ação no âmbito multilateral foi conservada até o momento em que as mudanças nos cenários doméstico e sistêmico diminuíram os incentivos para a manutenção da estratégia. Diante dos novos fatores e das possibilidades do governo brasileiro, a política externa brasileira passou a enfatizar outros meios, como o inter-regional e o bilateral. Em vista dessa análise, devem ser desmitificados dois pontos que uma análise mais prematura pode sugerir. Argumenta-se aqui contrariamente à existência de uma paralisia da política externa brasileira na segunda década do século XXI. A conjuntura alterou e, consequentemente, a capacidade brasileira de implementar uma política externa ativa e altiva foi reduzida. Somado a esse fato, a diplomacia presidencial também passou a ser menos frequente, o que tira temas internacionais dos holofotes. Todavia, a política externa continua sendo feita dentro do Itamaraty e de outras instituições da burocracia brasileira, como pode ser verificado na elaboração e negociação do modelo de ACFI, bem como na participação em novas instituições internacionais, como o BNB e o CRA. O segundo ponto que deve ser afastado é de que a opção pela ênfase no plano multilateral não rendeu frutos. Pode-se argumentar no sentido de que esses ganhos foram aquém das expectativas e dos interesses de alguns atores brasileiros, mas houve ganhos políticos, institucionais e simbólicos, que não foram revertidos na segunda década do século XXI. Essa variação de estratégias não significa que o Brasil perdeu interesse no multilateralismo, somente revela que o governo brasileiro avaliou que seria necessário buscar seus objetivos por outros meios. O próprio G-20 perdeu protagonismo e importância no sistema financeiro, principalmente diante da recuperação econômica de alguns países do Norte e do surgimento de outros temas (Síria, Ucrânia, Ebola, etc.). Apesar de importantes, essas outras agendas concorrem com temas econômicos nas discussões do G- 20. Se diversos temas passam a ter alta prioridade, consequentemente todos deixam de ser proeminentes. Considerando o fortalecimento das restrições sistêmicas, deve-se questionar, portanto, qual é o peso do governo Dilma Rousseff tem nessa mudança de estratégia. O Brasil não foi o único país emergente que atua com menor entusiasmo nos foros multilaterais financeiros a partir da segunda década do século XXI. É possível que mudanças dentro do governo também expliquem a variação da postura internacional desses países, mas o ponto em comum é o fator sistêmico. A demanda pela reforma do processo decisório do sistema financeiro internacional continua sendo feita, por meio de contrapontos políticos e simbólicos presentes na criação de novas instituições internacionais e modelos de acordo. Para futura reflexão, cabe discutir esses dois padrões de comportamento. Diante de ambientes doméstico e sistêmicos favoráveis, o governo brasileiro retomou as bases da Política Externa Independente e do Pragmatismo Responsável: busca de autonomia e de uma política externa ativa e altiva, por meio do uso das capacidades nacionais e da cooperação com outros países do Sul. Depois desses períodos de grande protagonismo, a política externa brasileira perdeu recursos e margem de manobra diante de ambientes políticos e econômicos adversos. O segundo governo de Dilma Rousseff e um maior distanciamento histórico serão importantes para analisar o período. Todavia, é possível argumentar no sentido de que a mudança de tabuleiro ocorrida no tema financeiro na segunda década do século XXI não é uma ruptura com os princípios basilares do período antecedente. Pelo contrário, a articulação com outros países do Sul continua forte, assim como a criação de contrapontos simbólicos e políticos com as normas existentes criadas pelos países do Norte. Todavia, recentes acordos com a OCDE também podem sugerir uma retomada da ênfase na relação com a Europa e os EUA. Este artigo, portanto, busca contribuir com a análise geral do papel do Brasil no sistema multilateral financeiro. Não se buscou aqui uma análise técnica sobre a posição brasileira em cada foro internacional na agenda financeira que faz parte, como o G-20, FMI, Banco Mundial, BNB e FSB. Entretanto, esse tema pode ser objeto de futuras pesquisas, que dialogariam no campo da ação dos atores domésticos na formulação da política externa para o setor financeiro (DUARTE, 2013). Referências ABDENUR, A. E.; FOLLY, M. (2015) "The New Development Bank and the Institutionalization of the BRICS" in Debatendo o BRICS. Brasília, FUNAG. AMORIM, Celso. (2011) Conversas com jovens diplomatas. São Paulo: Benvirá. 2011. BRANCO, Marta Castello (2013a) “G20 discordinated in St. Petersburg” in Breves CINDES. No78, outubro 2013. __________ (2013b) “G20 discordinated in St. Petersburg” in Breves CINDES. No78, outubro 2013. BRANCO, Marta Castello; VEIGA, Pedro da Motta; RIOS, Sandra Polónia (2012) “Economia e governança global em 2020: implicações para o Brasil” in Breves CINDES. No 64, Janeiro de 2012 CARNEIRO, R. M. (2009) “O Brasil Frente à Crise Global” in Interesse Nacional, v. 5, p. 20-30, 2009 __________ (2011) “Financial governance in Brazil 1998-2010: an overview” in Revista de Economia Política, v. 31, p. 863-873. CARNEIRO, R. M.; ROSSI, P.; SANTOS MELLO, G.; VINICIUS CHILIATTO-LEITE, M. 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The Boom and the Bubble: The US in the World EconomyThe Boom and the Bubble: The US in the World Economy by Robert Brenner
My rating: 5 of 5 stars

A evolução do sistema economico global desde de o surgimento de BWS tem sido marcada por disputas políticas e econômicas. Com a restauração das economias Europeias e Japonesas o pacto de cooperação econômica dos anos dourados chegava ao limite. O questionamento do USD por economias com uma base industrial mais nova e portanto mais produtiva que o parque industrial americano, gera crescentes desequilíbrios comerciais contra os EUA. O sistema BW pavimentou o caminho para consolidação do sistema financeiro americano globalmente. Um dólar fortalecido contribuiu para o desenvolvimento do setor de não-manufaturados americano prejudicando o setor manufatureiro cuja a produtividade caia frente a ascensão industrial de Japão e Alemanha. Após o Acordo de Plaza as moedas desses países, em especial o Japão, são levados a uma valorização o que compromete o dinamismo do setor manufatureiro, induzindo o Japão a uma bolha e exportação de capitais sobretudo para o Leste Asiático. Com a Crise do México em 1994 os EUA são obrigados a interromper a desvalorização do USD e a partir de 1995 os EUA voltam a permitir valorização do USD. Isso é prejudicial para economias asiáticas cujas moedas estavam pegged ao USD, países como Thailand verão seus investimentos manufatureiros caírem dando lugar a especulação imobiliária e finalmente a Crise de 1997. Mesmo com a Crise da Rússia e do Brasil o Mercado de Capitais americanso em especial as ações da Nasdaq (Nova Economia) geram efeito prosperidade tanto para o investimento como para consumo, assim o boom da nova economia fortalace as exportações de tecnologia proveninetes da Asia. Mas com o Price/Earning cada vez mais astronomico e uma economia descolada da realidade forjam o estouro da bolha. Em 2001 a Economia americana vê-se uma encruzilhada sem um Japão próspero para comprar títulos e permiti-la continuar se financiando (como feito no crash 1987). A solução será um defícit keynesiano com a Guerra do Iraque 2.0, maior financeirização e contar com a China para suprir a demanda por Treasuries. Os EUA confiam que ainda são porto seguro da economia e por isso continuam usufruindo do privilégio exorbitante, mas o surgimento de alternativas ao USD podem trazer sérias ameaças para economia americana continuar se financiando. O desafio é que a demanda dos EUA é determinante para a demanda global, portanto, uma crise naquele país tem alto poder de contaminação para economia global.

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Monday, June 29, 2015

After a crisis, on average government debt increases by 86%, no matter where the crisis took place, and most of this is not the cost of "bailouts" but is due to decreased tax revenue and increased expenditures. Everywhere they show, governments are subject to similar constraints and similar outcomes after a crisis.

Wednesday, June 24, 2015

A Guide to the Good Life: The Ancient Art of Stoic JoyA Guide to the Good Life: The Ancient Art of Stoic Joy by William B. Irvine
My rating: 3 of 5 stars

“Your primary desire, says Epictetus, should be your desire not to be frustrated by forming desires you won’t be able to fulfill.”

Um guia escrito por um professo de filosofia pela Wright State University. Como num manual, o autor de forma argumentativa, apresenta as origens e as principais ideias do Estoicismo. Para um leigo em filosofia como eu essa leitura/curso serviu para apresentar o contexto do surgimento dessa filosofia de vida. Forjada na filosofia ateniense pós-socrática e depois migrada para Roma e adotada de forma célebre por Seneca (tutor de Nero) e por Marcus Aurelius.

A filosofia Estoica surge no contexto das escolas filosóficas pós-socráticas (Academia de Platão era uma delas) que pipocavam em Atenas com Zeno um ex-cínico que por não ver propósito no ascetismo funda uma corrente que prega o desapego material, mas não é apegada em negar o mundo material: dessa forma desenvolve-se uma filosofia centrada na ética(EUDAEMON = bom espírito) com apoio da lógica (para de forma racional aplicar a ética) e da física para situar a natureza no mundo, afinal, assim como os Taoistas para os Estoicos, uma vida com virtude (para os gregos) ou vida tranquila (para os Romanos) deveria ser alcançada por meio da harmonia com a natureza.

O autor acredita que a perspectiva da busca da tranquilidade já implica na busca pela virtude assim ele adota a linha Romana para explicar o Estoicismo. Dessa maneira, ele prossegue o curso exemplicando as diversas técnicas para evitar o aparecimento de emoções negativas. Entre essas técnicas a principal seria a prática da "visualização negativa" para aprendermos a modular o desejo pelo que temos e não pelo aquilo que acreditamos nos fazer falta. Em seguida ele apresenta dicas dos principais romanos estoicos para lidar com fontes de emoções negativas como o luto, no caso deveriamos aplicar visualização negativa, pensando que vida é mais feita de derrotas que vitórias, portanto, não devemos deixar o luto da perda nos dominar, pois para perder algo tivemos a sorte de ganha-lo em algum momento da vida. Depois ele ainda passa instruções para como lidar com Insultos - Como Seneca afirmava que os primeiros a notar nossos defeitos são nossos inimigos, por isso devemos honra-los, para que possamos nos aprimorar. Ademais, estamos sujeitos a insultos de pessoas que buscam apenas pertubar nossa tranquilidade, para isso a melhor forma é saber ignorar e se for o caso concordar de forma irônica e cômica.

Ao longo do Livro/Curso o autor alerta que a busca pela fama e fortuna são vãs, o que não implica que os Estoicos não acabam alcançando os dois. Porém, por meio da sua abordagem desapegada não modulada pelo desejo uma espécie de Wu-Wei em torno da virtude.

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Monday, June 1, 2015

A desordem econômica no país da Ordem e do Progresso

A ordem econômica deve promover a geração e a justa distribuição da riqueza produzida. Na perspectiva dos economistas Novos Clássicos (Friedman e Misses) a ordem econômica seria alcançada por meio de um equilíbrio paretiano na relação entre o lado da oferta e da demanda. Essa corrente acredita que o ponto de equilíbrio da eficiência econômica seria o melhor disponível mesmo que implicasse em injustiça econômico-social. Contudo, a evidência histórica tem indicado que a justaposição entre eficiência e justiça econômica numa caixa de Edgeworth é rara e quanto mais incongruentes estiverem maior é o risco sistêmico para pacto social ao longo do tempo.  Por isso, observar como a ordem econômica distribui ganhos e perdas seria mister para entender as fontes de instabilidade não apenas econômicas, mas sobretudo políticas.

Para Giambiagi(2011) fenômenos como externalidades negativas, mercados incompletos, assimetria de informação, formação de carteis e monopólios são nocivos para ordem econômica pois levam a alocações subótimas dos recursos. O regulador público, quando confrontado com essas questões deve orientar o ente estatal a atender o binômio justiça e eficiência econômica. De acordo com Acemoglu (2012), quanto mais plural for a representatividade política do estado, maior a probabilidade do regulador implantar políticas econômicas inclusivas alinhando crescimento e distribuição dos ganhos gerados. Segundo ele essas instituições contrapõem-se as instituições econômicas de cunho extrativo, originadas em ambientes de baixa pluralidade política em que assimetrias de poderes econômicos invarialmente capturam as escolhas políticas. Essa captura ocorreria em benefícios de uma minoria influente e implicaria em pares subótimos de eficiência e justiça. Acemoglu conclui que democracia e pluralidade são imprescindíveis para o surgimento de instituições econômicas inclusivas. Portanto, para entender ordem econômica ideal para o um povo deve-se observar se a relação entre agentes econômicos são minimamente simétricas - toda forma de lucro abusivo persistente ao longo do tempo seria sintoma de uma ordem econômica frágil suscetível a formação de instituições extrativas.

A abordagem crítica realista de economista keynesianos combinada com  análise da economia política de Acemoglu, permite constatar que a realidade institucional será determinante para a ascensão de instituições extrativas ou inclusivas determinando assim a possibilidade da eficiente alocação dos recursos advinda da Criação Destrutiva elaborada por Schumpeter e tão cara ao espírito animal do agentes econômicos. Portanto, para o claro entendimento da ordem econômica é necessário observar as instituições herdadas pelo processo histórico e formação social das civilizações. Essa análise contribui para compreender a formação institucional das ex-colônias ibéricas – cuja natureza patrimonialista repercute até os dias atuais num capitalismo ineficiente em que grande parcela dos ganhos econômicos seriam assegurados ao mais influente em detrimento do mais eficiente.

“O capitalismo comercial, politicamente orientado, só ele compatível com a organização política estamental, sempre gradativamente burocrática, ajusta a si o direito, limita a ideologia econômica, expande-se em monopólios, privilégios e concessões. Os parceiros da jornada da África, Ásia e América se entendem e se ajudam, estabilizando a economia, nela intervindo intima e indiretamente, sob a tutela do soberano. O Brasil, de terra a explorar, converte-se, em três séculos de assimilação, no herdeiro de uma longa história, em cujo seio pulsa a revolução de Avis e a corte de D. Manuel.” (Faoro, 1977, p. 67-68) (...)

Ex-colônias de exploração em sociedades migratórias, como as latino-americanas, formaram instituições por meio da força colonizadora atraída pelo sonho do Eldorado cuja realização dependia da associação a mega-autarquia mercantil encabeçada por El-Rey. Os nexos da colonização eram os fáceis lucros do comércio levantados pela metrópole em detrimento das colônias. El-Rey e seu obediente estamento patrimonial (homens de bom sangue) gozavam de privilégios exorbitantes que lhes permitiam usufruir das riquezas extraídas de além-mar. As mesmas instituições extrativas que travavam o desenvolvimento da colônia também contribuíram para o malogro futuro das metrópoles. Portugal e Espanha, mesmo depois do ingresso na União Europeia, estão longe de alcançar a relevância geopolítica que tiveram no auge de seus territórios ultramarinos. O êxito inicial dos ibéricos em implementar o mercantilismo e superar o feudalismo vem do pacto que fundiu a nascente classe mercante com corte real, formando um autarquia patrimonialista - estamento-chave para o mercantilismo.

Se a diferença entre remédio e o veneno é a dose, as instituições patrimonialistas que irão promover criação do mercantilismo com a destruição do feudalismo, crescerão tanto que elas mesmas irão resistir a criaçao destrutiva imposta por um sistema economicamente superior ao mercantil: o capitalismo. Logo, apesar de Portugal inaugurar o sistema econômico mercantil, com a Revolução de Avis*, no século XIV, o sucesso das instituições inclusivas em introduzir um mercantilismo estatal impedirá a destruição criativa proposta por um sistema econômico superior ao mercantil, como ocorrido na Inglaterra. No fim do período colonial, Portugal dependia crescentemente da acumulação primitiva das colônias para saldar deficitário acordo de livre comércio com os ingleses (Acordo de Methuen – Panos e Vinhos). O mercantilismo tornava-se anacrônico junto ao Estado Patrimonial, de cunho absolutista, prestes a ser varrido pelas invasões napoleônicas. Hoje, na América Latina, são as instituições extrativas que garantem a Carlos Slim, dono da Telmex, monopolista de telecomunicações no México a titularidade da maior fortuna individual do mundo. No Brasil, o extrativismo institucional impede que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) de punir Eike Batista por suas operações de venda no mercado de capitais sabendo de antemão da invialbidade econômica de seus empreendimentos. Mas não é só no abuso de poder econômico que se manifesta o extrativismo. Grupos de interesse ligados ao estamento burocrático no Brasil, por exemplo, logram em apropriar-se de rendas maiores que suas produtividades frente aos ganhos do setor produtivo, sejam eles carteis de empreiteiras ou mesmo sindicatos de servidores públicos que atuam em áreas estratégicas para o exercício do poder (gestores de políticas, área fazendária e atividades judiciárias) (Mendes 2014).

Portanto, os desafios para o promoção da ordem econômica nas ex-colônias ibéricas conflitam com os vícios extrativistas instituídos pelo colonizador no contexto da acumulação mercantilista. Instituições políticas pouco plurais forjam instituições econômicas extrativas, que impedem a eficiente alocação dos recursos econômicos. Nesses ambientes a inovação é inibida, na medida em que se torna mais rentável para empresa investir em lobby e influência política do que em pesquisa e desenvolvimento que assegurariam uma oferta maior a um custo menor no longo-prazo (Mendes 2014). Não era à toa, por exemplo, que a metrópole portuguesa proibia instalação de industrias em suas colônias. A persistência das instituições extrativas imputam um produto nacional subotimo no longo prazo, situação que só pode ser revertida por meio da promoção de instituições inclusivas incubadas por um processo político plural e democrático. Superá-las, portanto, asseguraria criação destrutiva força motriz da evolução material modernizadora e tão cara ao Brasil. Portanto, a formação da configuração política da ordem econômica brasileiro carece de diretrizes jurídicas que previnam a formação de instituições extrativas.

Artigo a ser publicado com Ana Paula.

Arabian Sands - Finished

Arabian SandsArabian Sands by Wilfred Thesiger
My rating: 4 of 5 stars

Wilfred Thesiger testemunhou um mundo que já não mais existe. Atravessou de camelo e sem GPS, há apenas 65 anos, uma região que passou por profundas transformações econômicas e sociais e que hoje é decisiva para compreender a dinâmica do poder geopolítico, sobretudo da política energética e financeira. Apenas um oficial de elite fugindo dos horrores da modernidade (máquinas automotoras, aeroplanes etc) que reconhece a força humana na capacacidade de sobreviver num ambiente onde os valores a respeito da vida e da morte são outros, moldados por um ambiente hostil, carente e impregnado pelo fantatismo religioso. A força de Thesiger advem não apenas de sua formação de elite, ou mesmo da sua rejeiçao da modernidade, mas também de sua infância filho de diplomata britânico nascido na Etiopia e formado com a elite inglesa no colégio Eton de Londres. Sua escrita objetiva, os detalhes de um mundo tão recente, mas que não existe mais e sobretudo a dureza da vida no deserto e o olhar para a virtude lapidada pelas imtemperes da vida dos beduínos que segundo o proprio autor preferem uma vida dura com sentido do que uma vida acomodada sem sentido como a acomodada vida no meio da civilização moderna com seus carros e ar-condiconados. Fazia muito tempo que não lia um livro de aventuras e depois de ter contato inicial com os livros de Lawrence Bergreen em Over the Edge of the World e The Last Voyage of Columbus, Arabian Sands foi uma leitura interessante rica em detalhes a respeito de culturas que eu desconhecia e, por isso, serviu para despertar meu interesse no tema e cogitar a ler o famoso Pillars of Earth, do Lawrence da Arábia. O gênero aventura escrita por pessoas inteligentes são sempre leituras agradáveis e enriquecedoras.

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