A maioria das atuais teorias sobre a estagnação se aplica unicamente ao Ocidente rico e não a China, Rússia, Índia ou Brasil. Já faz quatro décadas que o desequilíbrio tem sido mais ou menos a condição normal do mundo industrial avançado. Há sentimento generalizado de que o capitalismo,ordem social e um modo de vida que depende visceralmente do progresso ininterrupto da acumulação de capital privado, está em estado crítico e é incerto que esse sistema economico.A crise de 2008 foi apenas a mais recente de uma longa sequência iniciada em meados da década de 70, com o fim da prosperidade do pós-guerra.O surto de inflação dos anos 70 foi seguido pelo aumento da dívida pública nos anos 80, e o ajuste fiscal dos anos 90 se fez acompanhar por um acentuado aumento da dívida do setor privado.
O crescimento constante, a moeda estável e um mínimo de igualdade social, disseminando alguns benefícios do sistema para os que não têm capital, por muito tempo foram considerados pré-requisitos para uma economia política capitalista conseguir a legitimidade de que precisa. Combinado com um aumento também persistente do endividamento total nos principais países capitalistas, recrudescimento, já há várias décadas, da desigualdade, tanto de renda como de riqueza(“Efeito Mateus”).Três tendências de baixo crescimento de longo prazo nas trajetórias dos países ricos altamente industrializados – ou melhor, cada vez mais desindustrializados. Crescimento cada vez menor, uma desigualdade cada vez maior e o endividamento sempre crescente. O endividamento crescente, ao mesmo tempo que não consegue deter a redução do crescimento, torna-se mais um componente da desigualdade devido às mudanças estruturais associadas à financeirização da economia.
O capitalismo nos países ricos vem se mantendo por meio de injeções generosas de dinheiro sem lastro a ação dos bancos centrais conseguiu foi comprar tempo. O dinheiro barato torna mais fácil pedir emprestado do que economizar, mais fácil gastar do que tributar, mais fácil manter tudo como está do que mudar. Mas o Banco de Compensações Internacionais (BIS), na Basileia, Suíça – a mãe de todos os bancos centrais –, declarou que o relaxamento monetário precisava chegar ao fim e para sustentar o capitalismo por meio de injeções ilimitadas de dinheiro é tentar reanimá-lo por meio da reforma econômica neoliberal, como resume bem o segundo tópico do Relatório Anual do BIS 2012-13: “Aumentar a flexibilidade: uma chave para o crescimento " - maiores incentivos para poucos e um remédio para muitos.
Já bem entrado o século XX, os detentores do capital ainda temiam que as maiorias democráticas fossem abolir a propriedade privada, os detentores do capital ainda temiam que as maiorias democráticas fossem abolir a propriedade privada.Só na Guerra Fria o capitalismo e a democracia pareciam alinhados, legitimidade da democracia no pós-guerra se baseava na premissa de que os Estados eram capazes de intervir nos mercados e corrigir seus resultados, no interesse dos cidadãos. Mas sua crescente irrelevância da democracia numa economia de mercado global, governos e partidos políticos nas democracias da OCDE assistiram à transformação da “luta de classes democrática” num circo de mídia, num entretenimento pós-democrático. a passagem da economia política capitalista, do keynesianismo do pós-guerra para o hayekianismo neoliberal, transcorreu sem dificuldades: a fórmula política para o crescimento econômico por meio da redistribuição de cima para baixo foi substituída por outra que espera promover o crescimento por meio da redistribuição de baixo para cima: o hayekianismo contemporâneo, mercados protegidos das distorções das políticas redistributivas trazem mais crescimento.
Retórica antidemocrática vigente é a crise fiscal do Estado contemporâneoexplorando o “fundo comum” de suas sociedades com eleitorado que vive acima das suas posses. A crise fiscal, porém, não foi determinada por um excesso de democracia redistributiva a queda dos níveis gerais de tributação e o caráter cada vez mais regressivo dos impostos – como resultado de “reformas” na tributação das empresas e das faixas superiores de renda – colaboraram para a deterioração das finanças públicas.O acúmulo da dívida pública acompanhou o enfraquecimento da sindicalização, o desaparecimento das greves, os cortes no Estado de bem-estar e o crescimento disparado da desigualdade de renda.
Ao substituir as receitas tributárias pela dívida, os governos contribuíram ainda mais para a desigualdade.Diferentemente de quem paga impostos, quem compra títulos do governo continua a possuir aquilo que pagou ao Estado podem ser transmitidos como herança. A política econômica ficou basicamente nas mãos de bancos centrais independentes – desobrigados de prestar contas democraticamente e interessados acima de tudo na saúde e na boa vontade dos mercados financeiros.As classes que dependem do lucro seguem duvidando que a democracia, mesmo em sua atual versão castrada, permita as “reformas estruturais” neoliberais necessárias para o regime se recuperar. A teoria da “escolha pública”, segundo a qual a política democrática corrompe a justiça do mercado ao servir a políticos oportunistas e sua clientela, tornou-se consenso entre pessoas da elite assim como a convicção de que o capitalismo de mercado - a utopia política da corrente neoliberal convencional é uma “democracia adaptada ao mercado”.
Pensar o capitalismo como fenômeno histórico, que tem início e também um fim. Nos anos 80, abandonou-se a ideia de que o “capitalismo moderno” poderia ser gerido como uma “economia mista”, administrada tecnocraticamente e controlada democraticamente. É um preconceito marxista – ou melhor, modernista – acreditar que o capitalismo como época histórica só terminará quando uma sociedade melhor estiver à vista, com um sujeito revolucionário pronto para implementá-la em prol do avanço da humanidade - o capitalismo terá seu fim decretado, ao estilo leninista, por algum governo ou comitê central, persistiremos na crença de que o capitalismo é eterno.
Hoje, diferentemente da década de 30,a miríade de correções provisórias concebidas para gerir crises no curto prazo vai entrar em colapso sob o peso dos desastres diários produzidos por uma ordem social em profunda instabilidade e anomia. sistema social em desmantelo crônico, por razões que lhe são próprias, independentemente de uma alternativa viável. não há no horizonte nenhuma fórmula político-econômica, à esquerda ou à direita, capaz de fornecer às sociedades capitalistas um novo regime coerente de regulação.Conceber o fim do capitalismo como um processo, e não como um evento, levanta a questão de como definir o capitalismo como uma sociedade moderna que assegura sua reprodução coletiva como um efeito colateral, não intencional, da maximização competitiva do lucro.
O keynesianismo e o fordismo foram importantes para estabilizar a demanda agregada. O capitalismo livre da regulação do Estado é desorganizado está desorganizando não só a si mesmo como também a sua oposição, privando-a da capacidade de derrotar o sistema, ou então de salvá-lo. Porém, mesmo hoje, depois de 2008, a “velha esquerda” continua à beira da extinção em todos os lugares, enquanto uma nova “nova esquerda” ainda não apareceu. As pessoas, por exemplo, podem se acostumar com a desigualdade, sobretudo com a mãozinha do entretenimento e da repressão política.Cidadãos onsumidores estão firmemente presos nas garras do consumismo fetichista e obrigados a adaptar-se a regimes de trabalho que consomem mais tempo e mais vida pode ser considerado um desafio competitivo, uma oportunidade para a realização pessoal.
Limites sociais à expansão do mercado: o economista britânico Geoffrey Hodgson argumentou que o capitalismo só pode sobreviver enquanto não for totalmente capitalista. Os mercados, porém, têm a tendência inerente a expandir-se além de seu domínio original (o comércio de bens materiais), para todas as outras esferas da vida, sejam ou não aptas à condição de mercadoria (ou mercantilização); em termos marxistas, os mercados tendem a subsumir tudo na lógica da acumulação de capital.
Inúmeras vezes que, no passado, o capitalismo foi declarado morto. O fato de que algo não aconteceu, apesar de razoáveis previsões ao contrário, não significa que nunca vá acontecer. Karl Marx ou Karl Polanyi, mas também por teóricos burgueses como Max Weber, Joseph Schumpeter, Werner Sombart e o próprio Keynes. A estabilidade do capitalismo depende de que sua dinâmica seja contida por forças compensatórias – interesses coletivos e instituições que sujeitem a acumulação de capital aos freios e contrapesos sociais
Três “mercadorias fictícias”: trabalho, terra (ou natureza) e dinheiro. A expansão do mercado alcançou um limiar crítico no âmbito das três mercadorias fictícias de Polanyi: (1) sistema de emprego sobre o trabalho humano; (2) sistemas capitalistas de produção e consumo sobre os recursos naturais finitos; (3) sistema financeiro e bancário sobre a confiança das pessoas, por meio de pirâmides cada vez mais complexas de dinheiro, crédito e débito.
A grande crise financeira: os culpados - Economia - Estadão27 about 2 hours ago
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Larry Summers reafirma sua tese da estagnação secular.
Taylor responsabiliza a política relaxada do Fed
culpa pela lentidão na recuperação dos EUA é das "políticas equivocadas e da retórica anti-empresarial do governo"
os lucros estejam em patamares nunca antes vistos em relação ao PIB
o 1% mais rico da população americana acumulou ganhos de renda reais da ordem de 31%, e os 99% restantes, ganhos de apenas 1%.
Excluído um retorno à servidão feudal, as condições não poderiam ser mais favoráveis para a elite empresarial.
Como venho dizendo há anos, quando os bancos centrais cortaram os juros em 1987, 1998 e no início da década de 2000, os investidores foram incentivados a acreditar nos preceitos de Greenspan
Aquilo que era verdadeiro para o mercado de equity também valia para o mercado imobiliário; as pessoas pensaram que os preços só poderiam aumentar.
acúmulo de derivativos ligados a hipotecas, acreditando estar dissipando o risco em vez de concentrá-lo nos bancos (é verdade que ele não estava sozinho)
reduzir parte do risco das hipotecas mais longas no balanço patrimonial tradicional dos bancos
A taxa básica de juros era de apenas 1% no terceiro trimestre de 2003, quando a inflação estava na casa dos 2% e aumentando.
A taxa de juros do Fed estava abaixo da inflação, completamente diferente do observado nos anos 1980 e 1990, e mais semelhante ao visto nos anos 1970.
o pouco espaço dedicado ao debate de erros na política econômica cometidos fora dos EUA (as bolhas na Grã-Bretanha, Irlanda e Espanha, por exemplo)
a Europa seguiu uma abordagem mais austera do ponto de vista fiscal e mais cautelosa do ponto de vista monetário, e obteve um resultado inferior ao dos EUA
Seja na sua versão neokeynesiana ou neoclássica
as flutuações são cíclicas em torno de um rumo considerado normal ou chamado de tendência do PIB potencial
quedas na produção observadas num período são em média correspondidas por excessos de produção em outro período
A única forma de equilibrar as duas coisas é uma queda na produção.
elogia o Fed por agir rapidamente ao injetar liquidez no mercado em 2008, ao mesmo tempo responsabilizando o Banco Central Americano por resgatar o Bear Sterns, mas não o Lehman
encerrar a compra de obrigações antes que os juros de curto prazo aumentem
Faz cinco anos que o Fed confia no achatamento da curva de rendimentos como melhor maneira de injetar mais estímulo na economia
Peter Fisher destaca que, em fevereiro de 2010, quando a primeira rodada chegou ao fim, o Fed tinha expectativa de crescimento entre 3,4% e 4,5% para 2011 e de 3,5% a 4,5% para 2012. O crescimento real nesses anos foi de 1,8% e 2,8%.
Fed promoveu um afrouxamento quantitativo muito maior do que o esperado inicialmente e, em termos do PIB
o Fed simplesmente reproduziu em grande escala aquilo que fez após 1987 - resgatou os mercados quando estes oscilaram
O efeito nos investimentos não foi tão grande quanto o esperado talvez porque o dinheiro tenha sido redirecionado para operações de recompra que oferecem a melhor relação custo-benefício para os executivos atentos às opções de ações.
a política monetária empresta crescimento do futuro; convence o público a tomar empréstimos e gastar agora, e não depois.
O fardo de endividamento estimulado por uma política monetária altamente comodista pode não gerar muita demanda corrente adicional, e pode também limitar investimento e consumo no futuro, oferecendo um rumo de crescimento futuro menor e um resultado deflacionário.