Excelente, gostei muito da
entrevista. Acho que o Brasil precisa de gente assim, que pense o país de
forma estratégica mais como nação e menos como povo. Os descaminhos dos últimos
50 anos, a ausência de reformas de base, de cunho estrutural, foram sabatodas e
depois parcialmente retomadas pela ditadura com um olhar muito mais para a
burguesia letárgica da bélgica do que para o povão da India. O resultado é o
fato do Brasil se tornar um dos países mais ricos
e mais pobres do mundo ao mesmo tempo. A
forma como isso se manifesta é numa classe e aspirantes a abastadas, alienadas
do próprio país. O espírito industrial nunca existiu na nossa burguesia de
mentalidade escravocrata e avessa ao risco. O preço desse espírito burguês
tropical é a privatização dos lucros e a socialização dos prejuízos. A luta de
classes tupiniquim não existe. As relações com nossos serviçais moreninhos
sempre foi cordial pq nosso preconceito é velado, o brasileiro belga e o
brasileiro indiano sabem desde pequeninhos quem vai comandar e quem será
comandado no futuro. E assim formamos esse país esclerosado tanto no setor
privado quanto no público...
Lessa dá puxão de orelha na aluna: “Dilma tem medo”
publicada quinta-feira, 06/03/2014 às
15:41 e atualizada sexta-feira, 07/03/2014 às 01:22
Por Aline Salgado e Octávio Costa, do Brasil Econômico
O carioca Carlos Frederico Theodoro Machado Ribeiro
de Lessa tem um gosto incomum pelo debate. Ele forma, com Maria da Conceição da
Tavares, o último bastião da escola estruturalista, que também se autointitula
de nacional-desenvolvimentista.
Em entrevista ao Brasil Econômico, Carlos Lessa
advertiu que, aos 77 anos, tem o direito garantido de ser irreverente. E
atacou, sem meias palavras, a política econômica de Dilma Rousseff, sua
ex-aluna.
Para ele, o Brasil pegou “um período de bonança” na
última década com a exportações de produtos primários e equilibrou suas contas
externas, mas poderia ter feito mais. “Acumulou reservas, mas não aumentou a
taxa de investimento, que continua abaixo de 20% do PIB. Passamos a apostar, de
novo, em exportar minério de ferro, café, milho, soja”.
O vento mudou e o país enfrenta agora a má vontade
do mercado financeiro internacional, que cobra medidas ortodoxas de aperto
fiscal. “Mas cortar o que e onde?”, pergunta. Ao comentar a ida de Dilma a
Davos, Lessa afirma que ela se dobrou às pressões internacionais: “Nossa
presidenta vai a Davos e diz: ‘Somos serventuários do Consenso de Washington’”.
Apesar das críticas, o economista prevê a reeleição
de Dilma. “Marina não é oposição e os meninos de Pernambuco e Minas também
não”.
O senhor ainda se considera um nacionalista?
Não é possível melhorar a condição social sem
aumentar a oferta pública. E não há como ampliar a oferta pública semusar o
Estado. Não há Estado mundial, então, tem que ser o Estado nacional. Por isso,
a ideia de nação é fundamental. Eu olho o Brasil com muita angústia. Porém,
quando eu comparo com a maior parte da África subsaariana, um pedaço importante
do Oriente Médio, eu não posso me queixar.
O sr. acha que há uma onda de má vontade contra o
Brasil?
A chamada onda de má vontade é um movimento
simétrico ao ufanismo. A ideia, exaltada na entrada do novo milênio, de que
finalmente o Brasil estava sendo reconhecido como Brics, é uma espécie de
movimento dialético. Nunca levei a sério a ideia do Brics. O único denominador
comum entre China, Rússia, Índia e Brasil é o tamanho do território. Tirando
isso, Rússia, China e Índia têm bomba atômica, submarino nuclear, nós não temos
nada disso. Eles são potências, e nós somos uma impotência do ponto de vista
militar. Enquanto a industrialização chinesa é espetacular, estamos nos
desindustrializando. Sempre achei que o Brasil não era emergente, mas submergente.
Mas quando se criou o termo, havia uma expectativa
muito grande em relação ao Brasil.
Os conceitos históricos de Centro e Periferia foram
sendo substituídos por neologismos, como Norte e Sul, Terceiro Mundo. Depois da
queda do muro de Berlim, surgiu a questão: como a gente racha o mundo? Vamos
deixar todo esse Terceiro Mundo em mãos de uma eventual hegemonia chinesa ou
hindu? Não, vamos recortar: emergentes e não emergentes. Por que colocar o
Brasil nos emergentes, se o Brasil estava submergindo?
Mas as exportações brasileiras ainda estão fortes…
O cenário é favorável, por causa da China. Com a
ascensão da China e da Índia, aumentou a demanda pelos produtos primários, o
que gerou uma valorização desses produtos, para a desvalorização dos artigos
industriais. O que se viu, imediatamente, no discurso brasileiro, foi um
retrocessonas forças produtivas. Passamos a apostar, de novo, em exportar
minério de ferro, café, milho, soja. E esse equívoco parecia confirmado, porque
os preços de todas as commodities subiam, e o dos produtos industriais
barateavam. Na lógica do imediatismo pragmático brasileiro, do servilismo
colonial, vamos fazer do Brasil uma economia primário exportadora.
Mas o sr. não acha que o Brasil ganhou com as
exportações?
O Brasil pegou, junto com outros países da América
do Sul e da África, um período de bonança nas exportações primárias. O boom
chinês empurrou os preços para cima e, ao mesmo tempo, reduziu o preço dos
produtos industriais. O Brasil teve, por mais de dez anos, bonança nas suas
contas externas, apoiado por uma política de absoluta abertura do sistema
financeiro brasileiro e articulação como sistema financeiro mundial. E aí
conseguiu combinar um superávit expressivo na balança comercial com um
superávit na balança de capitais.
Então, quer dizer que o vento mudou? É uma má
vontade?
Não. É realismo. Como o Brasil se abriu de uma
extensão total, completa e absoluta, eles não podem reconhecer isso. É
necessário fazer o discurso de que a abertura brasileira não foi totalmente
completa, diferentemente do México, onde se abriu tudo. O México está se
encaminhando para ser um estado norte-americano.
Mas nossa presidenta esteve em Davos e disse aos
empresários: “Eu estou com vocês”.
Apesar de ela ter reafirmado o compromisso com os
fundamentos econômicos e o tripé, a desconfiança com a economia não mudou. Mas
esse discurso não é só norte-americano, é também do sistema bancário
brasileiro. O grande círculo exportador primário brasileiro comunga muito da
ideia de tornar o Brasil, novamente, uma economia primário-exportadora. Além
disso, acho que o sistema bancário no Brasil nada em felicidade, porque tem uma
rentabilidade patrimonial duas vezes superior à média da indústria.
Mas, o discurso externo é de que Dilma expandiu muito
o gasto público…
Quem faz esse discurso são os bancos brasileiros e,
para minha tragédia, a Fiesp e a Firjan também. Só vejo um discurso empresarial
na contramão, que é o da Abimaq. Eu vejo o discurso da Fiesp e da Firjan quase
aplaudindo integralmente a ideia primário-exportadora. A lógica da empresa
industrial é dominar o mercado. Para mantê-lo, maximiza-se o ganho. Se puder
importar de fora, tem um custo mais baixo.
Em entrevista ao Brasil Econômico, Paulo Francini,
da Fiesp, falou que, há 15 anos, a indústria representava mais de 20% do PIB.
Hoje, só representa 13%, e a previsão é de 9%, daqui a alguns anos.
O Francini é uma exceção, porque é
nacional-desenvolvimentista. Eu vejo esse esvaziamento da indústria com horror.
Para a minha surpresa, as empreiteiras brasileiras não fazem parte da linha de
frente em defesa da indústria. Elas, por definição, dependem do investimento
público. Mas eu não as vejo tão preocupadas como investimento público. E tem um
discurso quase universal, na área empresarial, que converge com essa coisa
externa de desvalorização do Brasil: “O Brasil tem contas mal geridas”. Como se
resolve isso? Cortando gastos públicos. Nossa presidenta vai a Davos e diz:
“Somos serventuários do Consenso de Washington”. Continua a pressão contra o
Brasil e ela está preocupada em dizer que estamos nos comportando bem.
Ao mesmo tempo, gente como Paulo Nogueira Batista e
Luiz Gonzaga Belluzzo diz que é preciso dar alguma demonstração para
investidores estrangeiros.
Vamos pensar geopoliticamente. Os EUA estão
querendo diminuir a sua independência do petróleo do Oriente Médio, e nada
melhor do que se voltar para o Atlântico Sul. Há aqui a imensa reserva
venezuelana e o nosso pré-sal. Nesse contexto, nada mais importante do que o
Brasil. O que não pode aparecer na América do Sul? Um rebelde, como a Venezuela
ou a Argentina.
O Brasil é peça estratégica na geopolítica
norte-americana?
É essencial.
Mas se nós somos essenciais, porque ficam atacando
nossa política econômica?
Para nos subordinar. Você acha que o
desenvolvimento brasileiro, qualquer laivo de autonomia, interessa aos EUA?
Sabe o que deve estar irritando o Pentágono? O Brasil ter escolhido um caça
sueco…
O sr. acredita na reeleição de Dilma?
Sim. Sabe por quê? Não há oposição a ela. Marina
não é oposição, os meninos de Minas, de Pernambuco, não são. A Marina diz que
Dilma não fez tão bem quanto o Lula. O menino de Pernambuco critica que ela não
faz a política estabilizadora correta. E o menino de Minas fala a mesma coisa.
No momento, não há discurso de oposição. O que se tem é muita gente incomodada
com a situação atual, mas não há espaço para jogar isso em cima de ninguém.
E o corte no orçamento?
Se Dilma cortar o orçamento na educação e na saúde,
ela terá problemas. Os médicos e a população vão contra ela. Você acha que ela
vai cortar onde? Em obras públicas e pavimentação. Na energia elétrica? Não,
porque teria que que elevar a tarifa de energia. Criaram uma equação que é
ruim. Sabe o que os neoliberais fazem? Dizem que se está gastando muito. Há
maneiras de enfrentar, mas é preciso ter coragem. E Dilma não tem. Não dá para
subsidiar transporte urbano, consumo de energia elétrica e gasolina, não dá!
Mas e o problema da inflação?
Dilma represou tudo: o aumento da energia elétrica,
da gasolina. O que acho mais óbvio é que a inflação vai acontecer,
independentemente do que o governo faça. Por uma razão simples: toda vez que o
empresário ver que não há perspectiva dinâmica para frente, ele vai explorar ao
máximo as condições de mercado. Quando ele faz isso, joga o preço para cima. Na
cabeça dos empresários o câmbio vai evoluir desfavoravelmente para o real. E o
que eles farão? Se proteger, antecipando isso – ou seja, aumentando os preços.
A inflação vem, não adianta ficar com medinho. O problema é que o desequilíbrio
estrutural que foi criado no Brasil é assustador. Não quero dizer isso, porque,
quando falo, aumenta o medo. Você pode até tentar evitar um cenário de
inflação. Mas, para isso, teria que se fazer uma política brutal de asfixia.
Que produziria uma taxa de crescimento negativo – que não é o que o governo
quer. Por isso se busca um corte no orçamento, mas acho que será um corte de
mentira.
O governo recuou na política
nacional-desenvolvimentista?
Para mim, ela não foi nada
nacional-desenvolvimentista.
Mas a política deu ênfase ao mercado interno…
Isso é uma brincadeira. O investimento público
cresceu em alguns problemas de infraestrutura, mas qual é a reconstrução
industrial?
E a nova classe média?
Se você olhar o Brasil dos anos 2000,
inquestionavelmente houve uma melhoria do padrão de vida na base social. Mas
isso foi viabilizado pela melhor folga que o Brasil teve nas relações externas,
que permitiram uma política de estabilização razoavelmente convencional e uma
política social que, na periferia, fez algumas coisas relevantes. Primeiro, por
não comprimir o salário-mínimo real, elevando-o. Segundo, avançou de maneira
razoável a cobertura dos setores mais frágeis da sociedade -basicamente, pelo
Bolsa Família e outros programas sociais.Terceiro, ao conseguir um câmbio
favorável, ampliou a oferta de alimentos sem pressão significativa nos preços.
Por fim, a presença do PT melhorou a formalização dos contratos de trabalho.
Mas política de mercado interno, só houve uma: garantir a demanda efetiva para
veículos automotores e eletrodomésticos. Na verdade, você facilitou,
imensamente, o que eu chamo de “modelo Casas Bahia”. Do ponto de vista
macrodinâmico, o que não foi positivo foi a taxa de investimento, que ficou
abaixo de 20% do PIB.
Mas agora tem as concessões…
Não vão conseguir. Uma coisa é eu aplicar,
comprando o ativo pré-existente; outra coisa é arriscar em um futuro que não
sei qual é. A transferência de propriedade ou a outorga de uma responsabilidade
não gera, inexoravelmente, o investimento.
No exterior, fala-se que a economia brasileira é
vulnerável, inclusive, ao fortalecimento do dólar.
O Brasil sempre foi vulnerável. Houve um pequeno
período, nos últimos oito a dez anos, em que o país foi beneficiado por uma
mudança da lógica de preços relativos internacionais. Os produtos primários se
valorizaram muito e os industriais, em termos relativos, menos. No entanto, o
Brasil não soube aproveitar esse período, não elevou a taxa de investimento,
não melhorou a infraestrutura. Estamos à beira de um apagão energético e o
apagão da mobilidade urbana é mais que visível.
O que faltou?
Um projeto nacional e o desenvolvimento das forças
produtivas. Eu tive a oportunidade de conviver bastante com o Lula, nos anos em
que fui presidente do BNDES. Percebi que a ideia de povo existe com muita
clareza na cabeçado Lula, mas a ideia de nação, não. Sem desenvolver as forças
produtivas, você não consegue desenvolver as forças sociais a longo prazo. Nós
geramos empregos de qualidade, de forma intensa, até o início dos anos 80. Depois,
esse crescimento foi medíocre. Em seguida, começa uma desindustrialização, e o
crescimento continua medíocre. E continua se projetando medíocre. Se a taxa de
investimento é medíocre, você não vai para lugar nenhum. Aí é claro que a
produtividade não cresce.
E os próximos anos?
Digo que, mantidas as condições atuais, vamos
enfrentar uma crise social colossal.
Pelo aumento do desemprego?
Não. Eu acho que essa enorme nova classe média é um
protagonista social imprevisível. Você não pode despertar a visão de inserção e
depois cortá-la. A menos que a economia brasileira consiga sustentar um ritmo
bom de crescimento, o cenário mudará. Vamos supor que o Brasil abaixe toda a
cabeça e siga a cartilha do sistema financeiro internacional. O que haverá é
uma mediocridade adicional à já existente, talvez com taxas de crescimento
negativas. Eu não acho que a arrumação das variáveis macroeconômicas, a partir
de uma visão neoliberal, retome o crescimento. Aliás, se fosse assim, o mundo
já teria superado a crise mundial.
O sr. diz que governo seguiu o Consenso de
Washington. Mas o PT não desalinhou um pouco?
Não tenho essa visão. Fui para o governo do PT,
nunca tendo sido do PT, porque pensava que a eleição do Lula seria um vetor
novo e, se minimamente o programa do PT fosse seguido, seria possível avançar.
Passei dois anos no BNDES e estive com Lula quase diariamente.Percebi essa
questão das ideias de povo e nação da qual falei. Do ponto de vista
macrodinâmico, vejo hoje que eu estava certo: caminhar-se-ia para um desastre.
Cansei de falar: o endividamento familiar não é maneira de se dinamizar a
economia. Você só eleva o investimento pelo aumento da taxa, coisa que o
neoliberal vê como um pecado mortal.
Mas o Mantega é acusado de adotar uma política
frouxa em relação aos gastos públicos.
Pelo seguinte: você tem que encontrar algum
demônio. Não pode dizer que o demônio está no sistema financeiro – que
privilegia, no limite, o rendimento das instituições financeiras. Não pode
dizer que houve um equívoco em desproteger a base industrial. Pergunto: tem
algum interesse bancário perdedor no Brasil? Não. Talvez, pudessem ter ganhos
maiores, por exemplo, se pudessem assumir o controle de um Banco do Brasil,
esquartejar uma Caixa Econômica, e botar o BNDES na função de mero repassatário
de fundos. Ainda não conseguiram. Mas o trabalho é intenso. O discurso
dominante é o de que a políticado governo foi furada, porque gastou muito. A
pergunta que faço é: emquê? Aí se faz uma porção de discursos condenando essas
coisas. E a educação brasileira, melhorou? Não. E a saúde? Não. Como está a
energia? À beira de um apagão. Como está o transporte? Vivemos um problema
seríssimo na estrutura logística. Qual foi o problema estrutural brasileiro
enfrentado? Infelizmente, nenhum. Agora, se você me perguntar: houve uma
melhoria para o povão? Houve. Melhor ainda, para o não povão.
O sr., então, não cortaria os gastos, como os
neoliberais querem fazer?
Eu não sei que gastos eles vão cortar. Se você
tiver uma quantidade grande de chefias intermediárias dispensáveis, dá para
cortar. Faz uma trajetória do que está acontecendo com os cargos intermediários
da Petrobras e do BNDES, e você vai ficar assustado com a multiplicação deles.
Você vai cortar na saúde em um momento em que se pede mais saúde e menos Fifa?
Pode ser, mas se cortar, perde a eleição. Vão paralisar é programas de gastos
públicos de investimento e de novas obras, programas que, no conjunto, deveriam
ter sido feitos há 10, 15 anos.
O Banco Central diz que um dos instrumentos que tem
na mão é elevar os juros…
Mas o que o Banco Central não diz é que ele tem
outros instrumentos na mão. O câmbio. Ele não diz que aumenta os juros para
elevar a conta de atração do capital de fora.
É preocupante esse caminho de se elevar juros?
O que me parece é que esse caminho já demonstrou
que é uma trajetória maravilhosa para os balanços do sistema financeiro e para
as aplicações financeiras. O liberal brasileiro vê as coisas dando errado e
coloca a culpa no Mantega como se ele fosse superpoderoso. Quem tem poder mesmo
no Brasil é o secretário do Tesouro, que executa o orçamento, e o Banco
Central, que controla crédito e fluxo de dinheiro dentro e fora do país.
E o BNDES?
Eu fui presidente do Banco e sei que ele
éimportante para o futuro. Está bancando estados, municípios. Bancando de
maneira espantosa a indústria automobilística. Mas não está seguindo nenhum
projeto nacional-desenvolvimentista. Está servindo para fazer operações de
compensação nesse cenário. Mas a expansão de operações de crédito não é sinal
de saúde da economia, é um indicador de que ele vai sendo usado pragmaticamente
para segurar as contas, de Eike Batista a outras coisas.
Como o sr. vê o episódio dos blackblocs? Isso afeta
ou não a imagem da presidenta Dilma?
Desde o início das manifestações, tenho aprendido
muito. Nesse episódio do cinegrafista, aprendi que um rojão é mortal e que
qualquer pessoa pode comprá-lo livremente. Não entendo muito essa coisa de black
boy, para mim é um mistério. Fomos de terno preto para o leilão de Libra,
mas não conseguimos número suficiente de pessoas para fazer um cordão de
isolamento frente à polícia. Eu queria ver se os policiais teriam coragem de
jogar balas de borracha em nós, eu um velho de gravata, defendendo “o petróleo
é nosso”. A cobertura da imprensa também foi uma coisa horrorosa, ninguém
mostrou o lado pacífico e organizado da manifestação. Apenas uma correria, com
carro da imprensa virado e incêndio de um banheiro. Acho que interessa muito ao
regime que o povão tenha medo de ir para a rua protestar. A violência trabalha
contra a ideia da manifestação. Mas não tenho simpatia pelos black blocs. O
pessoal do povão da periferia tem horror a eles. Sabe por quê? Veja os pontos
de ônibus quebrados… meus empregados ficam furiosos!
Você acha que a Copa será afetada pelas
manifestações?
Foi e continuará sendo. Nas manifestações de julho,
não vi nenhum discurso contra o capitalismo estrangeiro e contra o imperialismo
O discurso dos manifestantes foi contra a Fifa. E o governo brasileiro cedeu à
Fifa, primeiro reduzindo o tamanho dos estádios e, depois, impedindo de se
aproximar deles. Do ponto de vista popular os custos brutais nas obras dos
estádios são a demonstração inequívoca de que o governo brasileiro é favorável
à corrupção. A reforma do Maracanã é uma vergonha, gastaram mais de R$ 1
bilhão.
O sr. acredita que o acirramento das ruas pode
tornar a reeleição de Dilma mais difícil?
Os ingredientes para um ano conturbado estão dados.
Acho que a população das cidades está extremamente incomodada com a mobilidade
urbana. Até agora a Dilma não se desgastou tanto, mas os governadores, sim.
Caiu a popularidade dela, mas ela não apareceu estigmatizada nas manifestações.
E que conselho o sr. daria à sua ex-aluna Dilma na
economia?
Ela foi uma boa aluna, sabe o que está fazendo. Se
faz bobagem, é porque no balanço político ela acredita que está certa. Modéstia
à parte, ela foi aluna dos melhores economistas do país. É muito inteligente.
Mas acho que tem muito medo de enfrentar as coisas. Enquanto a Cristina
Kirchner tem mais coragem, mas não sabe direito o que faz. As decisões
macroeconômicas partem dela, não tenho dúvida. Acho que o Mantega é um
operador, não acredito que esteja formulando nada. A política econômica
brasileira seguiu esse rumo, apesar de o Lula ter sido advertido de que era um
rumo perigosíssimo. Eu o adverti. E não fui só eu.
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