“E antes que falem, Paulo Guedes, que eu não entendo de economia: tem uma passagem da Bíblia que diz que Deus não chama os capacitados. Capacita os escolhidos!”
Paulo Roberto Nunes Guedes não é um principiante nos debates econômicos nacionais. Formado em economia pela Universidade Federal de Minas Gerais, com mestrado na Fundação Getulio Vargas e doutorado na Universidade de Chicago
notabilizou nos anos 80 pelas críticas ao Plano Cruzado do presidente José Sarney
combateu o confisco
e fez ressalvas ao Plano Real
soluções afinadas com o liberalismo ortodoxo
o apelido de Beato Salu, o personagem da novela Roque Santeiro que perambulava pela cidadezinha de Sinhozinho Malta e viúva Porcina anunciando o fim do mundo
um dos fundadores do banco Pactual
presidiu o Ibmec
e ajudou a criar o Instituto Millenium
Foi sócio de gestoras de recursos e hoje é CEO da Bozano Investimentos, no Rio de Janeiro
Emprestando ao ex-capitão um figurino liberal que nunca foi o dele, Guedes deu à campanha um novo impulso e ganhou do próprio candidato o status de autoridade inconteste
No final de julho, em uma conversa em seu escritório, no Leblon, Guedes admitiu ter ficado um tanto constrangido na convenção do PSL.
No mesmo dia, o próprio Bolsonaro enviou uma mensagem em áudio: “Paulo, amanhã tem uma convenção, você viu esse negócio de dizerem que estou isolado. Você está livre para fazer o que quiser.
No palco do SulAmérica, o economista fez um discurso de poucos minutos
Bolsonaro é sincero, patriota e republicano, não faz “acordos mercenários”
representa a ordem, a preservação de vidas e propriedades
o “economista destemido”, como o chamou Magno Malta, foi aplaudido e celebrado
Ainda assim, restringiu sua presença na convenção ao mínimo possível.
O deputado havia gostado de um artigo de Guedes, “Vácuo ao centro”, publicado no Globo e no qual classificava como “irreversíveis” a sua candidatura e a de Ciro Gomes.
Bolsonaro é a ‘direita’ que quer ‘a lei e a ordem’, valores de uma classe média esmagada entre uma elite corrupta e as massas que votam em Lula buscando proteção e assistencialismo.
Guedes contou que estava ligado ao apresentador de tevê e aspirante a presidenciável Luciano Huck, a quem vinha dando ideias para um futuro governo.
Àquela altura, Bolsonaro já entrara para o rol dos fenômenos políticos. Consolidara-se em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto – ou em primeiro nos cenários sem o ex-presidente Lula –, mas se incomodava com as insistentes perguntas sobre economia.
Bolsonaro, a gente tem de reconhecer que algumas críticas são válidas. A imprensa sabe que o Fernando Henrique não entendia de economia, mas o PSDB tem profissionais preparados e não faltariam quadros para um governo tucano. Com o PT é a mesma coisa. Tem lá um monte de gente para assessorar o Lula. Você não. Você é sozinho. Não tem nem partido!
O ex-capitão ainda buscava uma legenda para se abrigar, e só viria a se filiar ao PSL em março deste ano.
um economista que não fosse nem tucano nem petista para chamar de seu
inflexão liberal do ex-capitão foi bem recebida, e os convites para o candidato e o economista falarem em eventos de bancos e gestoras de recursos se multiplicaram. Desde fevereiro, Guedes participou de mais de 15 reuniões e palestras, sem falar das incontáveis entrevistas e de algumas viagens com o candidato. Bolsonaro, por sua vez, esteve no BTG Pactual e na XP Investimentos e compareceu a jantares, almoços e cafés com grandes empresários, como Abilio Diniz, ex-dono do Pão de Açúcar e acionista da Brasil Foods, David Feffer, do grupo Suzano, e Rubens Ometto, dono da Cosan.
A piada, entretanto, acabou sendo incorporada pelo próprio presidenciável, que passou a se referir a Guedes como seu “Posto Ipiranga”. Com sucesso, como constatou a diretora do Ibope, Márcia Cavallari, nas pesquisas do instituto. “O que o eleitor vê é que o Bolsonaro não enrola. Ele admite que não sabe de economia e diz que vai buscar quem sabe. Mesmo sem conhecer Paulo Guedes, o eleitor pensa: ‘Bolsonaro é humilde e não está mentindo.’”
“Muito empresário queria votar nele, mas tinha receio ou vergonha. O Paulo Guedes deu a desculpa que o pessoal precisava.”
Reconheceu que talvez não consiga vender todas as estatais, porque Bolsonaro quer manter as que ele julga “estratégicas”, mas, afora Itaipu, não apontou quais seriam. Admitiu, também, que ainda não chegou a um acordo com o presidenciável sobre alguns assuntos, como detalhes da reforma da Previdência ou o reajuste do salário mínimo, hoje atrelado a uma fórmula que combina INPC com o índice de crescimento do PIB. A regra criada na gestão Dilma vai caducar no próximo mandato.
Paulo, sua proposta é maravilhosa, mas temos um filtro pela frente, chamado Câmara e Senado. Nós não queremos apresentar uma proposta que não tenha chance de ser aprovada.
Na educação, sugeriu a distribuição de vouchers para os alunos de escolas públicas com bom desempenho estudarem na rede particular; em relação ao sistema prisional, defendeu a privatização de todas as penitenciárias.
Bolsonaro só discordou uma vez, balançando a cabeça, quando o economista disse que os militares deveriam ter devolvido o poder aos civis três anos depois do golpe de 1964.
A influência que Guedes passou a exercer sobre Bolsonaro é tal que, por vezes, os assessores recorrem ao economista para tentar persuadir o candidato de alguma coisa.
“Ô Jair, às vezes seus caras me ligam e pedem para fazer isso, para fazer aquilo…” O ex-capitão respondeu: “Paulo, só vale o que nós dois combinarmos. Não deixa ninguém te manipular.” No mês passado, quando Guedes foi tema de uma reportagem de capa da revista Veja, com a chamada “Ele pode ser presidente do Brasil”, Flávio Bolsonaro, filho de Jair e candidato ao Senado pelo Rio de Janeiro, escreveu no Instagram: “O folhetim Veja desta semana traz na capa o nosso professor Paulo Guedes. O intuito seria jogá-lo contra Bolsonaro, numa espécie de ciuminho entre eles que levasse a um desgaste interno e futuro rompimento. Não deu nem dará. Grande imprensa e adversários, morram de dor de cotovelo, nós temos o maior economista do país no nosso time, o time Brasil! E, sim, ele terá total autonomia na sua área – é porteira fechada que chama, né?! Estamos juntos, professor!”
Guedes vem atuando na conflituosa relação entre Bolsonaro e “a mídia”. “Você é visto como um bárbaro”, definiu o economista, logo no início das conversas, ao explicar para seu candidato a importância de estabelecer pontes com os donos dos maiores veículos de comunicação do Brasil.
O encontro pelo qual Guedes mais trabalhou ocorreu em agosto, quando o candidato visitou a sede da Globo, no Jardim Botânico, para uma conversa com o vice-presidente do grupo, João Roberto Marinho. Guedes e Marinho são velhos conhecidos, mas a hostilidade contra a emissora é uma das tônicas do discurso de Bolsonaro. Na convenção do PSL, um dos gritos de guerra mais ouvidos era “Globolixo”.
Bolsonaro também bate forte nas novelas da emissora, que, para ele, “arrebentam com as famílias do Brasil”. Esse parece ser um dos assuntos sobre os quais o ex-capitão convenceu o economista. Várias vezes, em nossas conversas, Guedes criticou episódios de novelas ou programas em que se discutia a diversidade sexual para adolescentes.
m meados de dezembro de 2015, dias depois de o processo de impeachment ter sido instaurado no Congresso, ele foi chamado para jantar no Palácio da Alvorada com a presidente.
No jantar, porém, não se falou do convite, mas, segundo o próprio Guedes, da condução da política econômica. “Primeiro ela deu uma informação. Falou: ‘Vou tirar o Levy e, se não achar uma solução externa, vou colocar a interna.’ Depois, ela me fez uma pergunta: ‘Por que você nunca veio, Paulo? Eu já soube que você foi convidado. O Delfim me contou que te convidou.’”
Quem ouve o guru de Bolsonaro contar sua própria trajetória tem a sensação de estar diante de um Forrest Gump da economia brasileira, o personagem que está sempre aparecendo nas franjas ou nos bastidores de episódios importantes da história.
Segundo seu relato, Dilma, durante o jantar, perguntou: “O que você faria se fosse ministro da Fazenda?” A primeira coisa, respondeu Guedes, seria adotar o plano de Michel Temer, então vice-presidente, para a economia, chamado de “Ponte para o Futuro”.
O Brasil precisa de um ajuste, o problema não é o Levy. O problema é a política.
A segunda proposta consistia em Dilma impor ao Congresso uma reforma política, em troca do seu próprio apoio ao plano Temer.
A mídia está dormindo, quando acordar já haverá alguém eleito”, disse ela. Guedes começou a pensar em quem poderia ser esse personagem, até que lhe ocorreu o nome de Luciano Huck.
Amigo e sócio de Huck na Joá Investimentos, Sayão almoçou com Guedes no início de 2016, em um restaurante da Zona Sul do Rio, e ouviu dele todo o prognóstico sobre a disputa eleitoral. O economista pediu para ser levado até Huck, e os três se encontraram dias depois na casa do apresentador, no bairro do Joá, no Rio.
Vai ter 25% de voto para um lado, 25% de voto para o outro. O establishment perdeu a decência, vai ter um vácuo no centro. Você vai virar a Meca
Huck ensaiou uma candidatura, conversou com partidos e possíveis apoiadores, fez que desistia algumas vezes – até que, em fevereiro de 2018, anunciou que, definitivamente, não entraria na corrida presidencial. Guedes já estava, então, namorando Bolsonaro.
A seção cearense do Lide, associação de empresários fundada pelo tucano João Doria, tinha organizado o evento justamente para ouvir o economista. Havia no ar um discreto clima de celebração. Em parte porque Guedes era o primeiro assessor econômico de um presidenciável a ser recebido pelo grupo, mas sobretudo porque se tratava do guru de Bolsonaro, o candidato por quem muitos ali já haviam se decidido. “Precisamos de um choque liberal”, disse Luiz Carlos Fraga, dono de uma rede de laboratórios de análises clínicas, no coquetel que precedeu a palestra.
O que faltou a todos os nossos planos, inclusive o Real, foi exatamente a dimensão fiscal.
Corte de gastos.
Só oito anos depois descobriram que tinham que fazer política monetária e fazem o Real. Só que faltou a política cambial. E, cinco anos à frente, descobriram que tinham que fazer política cambial, e abriram para o câmbio flutuante. Até aí, FHC queimou 50 bilhões de dólares para não perder a reeleição. Chegamos ao câmbio flexível não por decisão, mas porque o câmbio explodiu. Aí, flutuou o câmbio, e só depois descobriram a questão fiscal, catorze anos depois.
o alvo principal era Persio Arida – coordenador do plano de governo de Geraldo Alckmin, um dos autores do Cruzado e presidente do BNDES e do BC no governo Fernando Henrique Cardoso. Arida saiu do governo em 1995, depois de divergências com o diretor de assuntos internacionais do BC, Gustavo Franco, e em meio a acusações de ter vazado para um ex-sócio a decisão do governo de desvalorizar o câmbio – a investigação do vazamento foi extinta por falta de provas.
a chamada “turma da PUC do Rio”, hoje um reduto do pensamento econômico liberal, mas que nos anos 80 tinha inclinação mais heterodoxa.
primeira experiência de Guedes com a PUC se deu em 1979, quando ele chegou ao Brasil, aos 30 anos, depois de um doutorado em Chicago, obtido com uma tese de economia matemática sobre política fiscal e endividamento externo
imaginou que se tornaria professor em tempo integral da PUC ou da FGV.
aulas em tempo parcial nas duas universidades e no Instituto de Matemática Pura e Aplicada, o Impa.
O Brasil vivia um clima de cizânia entre os economistas.
Guedes diz que demorou a entender que, se quisesse ser bem-sucedido na academia brasileira, precisaria se enturmar em um dos grupos. “Sou um cara de politização tardia. Demorei a descobrir que não era ortodoxo suficiente para a FGV e nem heterodoxo o bastante para a PUC.”
Dias depois que tivemos esse diálogo, procurei Bacha para comentar o assunto. Ele riu. “Tenho visto ele falar essas coisas por aí, mas acho surpreendente, porque ele nunca nem sequer tentou o tempo integral. Até porque, para isso, precisaria publicar artigos, escrever textos para discussão, e ele não demonstrou disposição. Simplesmente não participa dos debates. Tenho convidado ele para vir aos eventos na Casa das Garças [centro de estudos de extração liberal administrado por Bacha], mas ele nunca vem. Talvez porque queira ser palestrante.”
O economista ainda vivia das aulas aqui e ali quando, segundo conta, recebeu no início dos anos 80 uma proposta que considerou irrecusável: lecionar na Universidade do Chile. O salário de 10 mil dólares mensais, mais passagens pagas para o Brasil uma vez por ano, era mais do que ganhava aqui, somando todos os seus empregos. A ditadura de Augusto Pinochet estava a todo vapor, e a universidade vivia sob intervenção militar. Economistas de Chicago haviam sido convidados pelo regime a implementar uma política econômica liberal, baseada nos fundamentos da economia de mercado defendidos por Milton Friedman. Chamados de Chicago boys, eles se instalaram na universidade e se revezaram em cargos no governo. O convite a Guedes partiu de um deles, Jorge Selume, então diretor da Faculdade de Economia e Negócios e diretor de Orçamento de Pinochet.
Guedes decidiu abandonar o Chile quando encontrou agentes da polícia secreta vasculhando o apartamento onde morava. Na mesma época, um terremoto abalou Santiago, o que deixou aterrorizada a sua mulher, Cristina, grávida da única filha do casal. De volta ao Rio, não se acertou com as universidades. “Percebi que havia uma mancha terrível sobre mim. Aí eu comecei a ver que a política é uma ferramenta suja nas mãos dos menos aptos.” Abrigou-se primeiro na Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior, a Funcex, entidade sem fins lucrativos. Em seguida, foi para outro centro de estudos, o Instituto Brasileiro do Mercado de Capitais (Ibmec), bancado pelo governo e por instituições financeiras. Articulado, passou a participar de debates, seminários e palestras, e logo se tornou fonte recorrente de jornalistas – já, então, criticando políticas de interferência do Estado na economia. Era sempre incluído na agenda das missões do Fundo Monetário Internacional, o fmi, no Brasil. Até que, em 1983, foi convidado pelo financista Luiz Cezar Fernandes para fundar o Pactual, que começou como uma pequena distribuidora de títulos e ações.
Na mesma época, o ministro da Fazenda, Dilson Funaro, mandou que o Banco Central cortasse a verba do Ibmec e exigiu a demissão de Guedes. Mais uma vez, Motta Veiga entrou em campo e foi falar com o ministro. Funaro manteve parte da subvenção, mas a reduziu drasticamente.
“Fiquei rico, fui muito feliz. Sou o único economista que ficou conhecido sem nunca ter passado pelo governo.” E tenta manter-se no terreno da ironia: “Hoje, sabendo das aspirações políticas e do viés ideológico que todos tinham, sinto até gratidão. Eles me expulsaram para o lugar certo.” Mas não resiste: “Eu sei que eles dizem por aí que eu sou ressentido. Isso é coisa da Elena Landau [ex-diretora de privatização do BNDES no governo FHC e ex-mulher de Persio Arida], que tomou pau na minha disciplina no mestrado. No meu curso, ela foi medíocre.”
Ela disse que a versão não confere e me mostrou seu histórico escolar, onde consta que ela foi aprovada. “Isso nunca existiu, eu passei na disciplina dele! O Paulo é que era um péssimo professor. Faltava às aulas, não corrigia os exercícios e depois queria aplicar as provas com o conteúdo dos exercícios que ele não tinha corrigido! Eu queria estudar, mas ele não ia à faculdade. Então organizei uma mobilização e o tirei da PUC.” Guedes diz que saiu da PUC porque quis.
O que o Paulo Guedes não entende é que o problema do Brasil não é ter um bom economista aconselhando o presidente, é ter um presidente com as ideias certas
Quem manda é ele, e ao economista só resta ir embora”, falou Arida. Ele contestou a sugestão de que não quisesse promover ajuste fiscal durante o governo Sarney. “Você conversa com o presidente e diz: ‘Vamos fazer um ajuste fiscal, acertado?’
Perguntei a Arida se ele achava que houve mesmo discriminação contra Guedes no meio acadêmico. Ele discordou.
diversos outros economistas vindos de Chicago nas universidades brasileiras, e todos bem-sucedidos
O Paulo não tem vocação acadêmica. Ele tem vocação empresarial e para polemista.
Vejo oportunismo nessas falas. O Bolsonaro quer disputar a eleição com o PT, e para isso é preciso desqualificar o Alckmin. Então ele fica dizendo que o Alckmin é de esquerda e que eu não sou liberal.
Eu saí porque não concordava com o câmbio fixo proposto pelo Gustavo Franco, da mesma forma que ele, Guedes. Quem me acusou foi o Delfim Netto, que nunca apresentou prova de nada. Um trio de petistas representou contra mim, o Ministério Público abriu investigação e depois arquivou por falta de provas.
Vários dos citados não gostaram de ter seus nomes ligados ao ex-capitão. A maioria preferiu não fazer comentários públicos, mas um deles decidiu falar. Marcos Lisboa procurou o jornalista e disse que não conversaria com Paulo Guedes. “Eu converso com todo mundo, desde que a pessoa não ache que a Venezuela é uma democracia ou defenda fechar museu porque lá dentro tem peladão”, afirmou Lisboa a Fucs, em tom de troça. Depois disso, o jornalista informou a Guedes que tiraria o nome de Lisboa da nota. Guedes se irritou. Daquele momento em diante, passou a mandar mensagens indignadas para o presidente do Insper por intermédio do jornalista. “O Lisboa trabalhou para o Lula, que defendeu a ditadura do Chávez e do Fidel. E trabalha para o Claudio Haddad, que colaborou diretamente no Banco Central da ditadura”, dizia uma das mensagens.
Haddad, fundador do Insper e presidente do Conselho Deliberativo dessa instituição de ensino superior, é outro personagem de quem o conselheiro de Bolsonaro não guarda boas lembranças. Haddad também é doutor pela Universidade de Chicago e foi diretor de política monetária do Banco Central no governo Figueiredo e diretor-superintendente do Banco Garantia, que no final dos anos 90 foi vendido para o Credit Suisse, depois de pesadas perdas.
Diante do impasse, recorreram a um dispositivo do acordo societário, segundo o qual, em caso de divergências, um deveria comprar a parte do outro. Guedes até tentou comprar a parte de Haddad, com a ajuda de um fundo estrangeiro. Mas acabou vendendo sua fatia por cerca de 30 milhões de reais e saiu do Ibmec – que, sob a direção de Haddad, dividiu-se em dois. As escolas do Rio de Janeiro e de Belo Horizonte continuaram com o nome Ibmec, mantiveram os cursos de pós-graduação e MBA e, em 2015, foram vendidas por 700 milhões de reais para o grupo americano DeVry. A unidade de São Paulo virou o Insper, e se transformou em uma instituição sem fins lucrativos.
Eu fundei a escola que ele dirige, mas eu pagava impostos. Eles a transformaram em escola de garotos ricos sem fins lucrativos.
Sua rotina se desenrola quase toda no Leblon, onde mora há mais de vinte anos, a 900 metros da sede da Bozano Investimentos. De manhã, caminha pela orla e depois vai para o escritório, onde fica até tarde da noite. Tem na garagem um carro importado, mas, se precisa se deslocar pela cidade, usa táxi ou Uber, pois considera mais prático. Veste sempre paletó de tweed marrom, meio desalinhado, gosta de tocar piano e de jogar futebol, viaja mais a trabalho do que a lazer e bebe pouco, com poucos amigos. Apesar de respeitado no mercado financeiro, nunca atingiu grande notoriedade fora dele.
A Bozano é a quarta gestora de Guedes desde que ele deixou o Pactual, em 1998. No ecossistema das finanças nacionais, não chega a ser das maiores. Tem 3 bilhões de reais sob gestão, distribuídos em quatro fundos. Sua missão é investir em empresas que tenham potencial de abrir capital na Bolsa, ganhando com a valorização.
Orientou a equipe do banco a emprestar dinheiro em dólar para aplicar em papéis atrelados à valorização do real. Foi uma de suas muitas “porradas”, jargão que se usa no mercado quando alguém ganha dinheiro grosso. O próprio Guedes afirma que, graças ao bom desempenho, recebia todos os anos o maior bônus individual pago pelo banco.
Ele é arredio a falar do valor que pôs no bolso, mas sabe-se que, diferentemente de outros ex-sócios no Pactual, como André Esteves ou Gilberto Sayão, não entrou para o time dos bilionários. Três desses sócios calculam que Guedes tenha acumulado, em sua passagem pelo Pactual, algo em torno de 150 milhões de dólares, em valores da época.
JGP
Jakurski, Guedes & P
Guedes combinou com os parceiros que se dedicaria principalmente a cuidar do próprio dinheiro. Ficava a maior parte do tempo mergulhado no day trade
uedes já fazia day trade no Pactual e continuou na JGP, onde isso virou para ele uma verdadeira obsessão.
perdendo muito dinheiro
o prejuízo de Guedes nessa época em 20 milhões de reais
Aquilo foi um experimento. Eu queria dominar o trade, porque o trade são seus próprios demônios. É o cara que acha que caminha sobre as águas e, de repente, se ferra.
Mas ele só parou mesmo quando acabou o dinheiro reservado para o “experimento”. Chamado a colocar mais recursos na sociedade, preferiu sair.
O episódio afastou Jakurski e Guedes e ajudou a encher mais um pouco o pote de mágoas do conselheiro de Bolsonaro.
Depois, como eu não fiz o que queriam, começaram a dizer que eu tinha pirado, que era um sócio difícil. Partiram para o assassinato de reputação.” Jakurski não quis falar com a piauí.
Filho de um vendedor de material escolar com uma servidora pública do irb, o Instituto de Resseguros do Brasil, Paulo Guedes chegou à juventude sonhando ser “o melhor economista do mundo”
PUC são os triunfos que diz ter obtido nos duelos intelectuais.
“Não existe mais lei, não existe mais ordem. O Brasil virou uma zorra. O político rouba e não acontece nada. O black bloc rouba e não acontece nada. O MST quebra sua casa com um trator, faz o que quer, e não acontece nada. Nenhum político fala isso. São covardes. Têm medo do MST.”
Num de nossos encontros, no Gávea Golf Club, ele me mostrou um vídeo em que crianças sem-terra cantam músicas que exaltam a revolução enquanto marcham. “Você acha isso normal? Usar o dinheiro do Estado para ensinar as crianças a fazer revolução?
Ao longo de oito semanas de conversas, não foram poucas as vezes que Guedes se inflamou ao criticar a esquerda, a imprensa ou os economistas de candidaturas rivais.
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