Friday, January 23, 2015

Um mundo sem DEUS - Um mundo da EXISTÊNCIA

Com Gautama Buda a religião deu um salto. Deus tornou-se sem sentido e somente a meditação era importante. Agora, vinte e cinco séculos após Buda, novamente a religião está dando o salto em sua presença e tornando-se religiosidade. Por favor, fale sobre este fenômeno.

O crédito de trazer um salto na religião regride vinte e cinco séculos antes de Gautama Buda para Adinatha, que foi quem pela primeira vez, pregou religião sem Deus. Isso foi uma tremenda revolução porque em nenhum lugar do mundo nunca havia sido concebido que a religião pudesse existir sem Deus. Deus era uma parte essencial - o centro - de todas as religiões: Cristianismo, Judaísmo, Maometismo. Mas para fazer de Deus o centro da religião torna o homem apenas uma periferia. Conceber Deus como criador do mundo torna o homem apenas um boneco. Eis porque em Hebreu, que é a língua do Judaísmo, o homem é chamado de Adão. "Adão" significa lama. Em Árabe o homem é chamado de "admi"; que vem da palavra Adão, novamente significa lama. Em inglês, que se tornou a língua do cristianismo, a palavra humano vem de "humus", que significa lama. Se Deus é o criador, naturalmente, ele tem que criar a partir de alguma coisa. Ele teve que fazer o homem como uma estátua, assim, primeiro ele fez o homem da lama e depois soprou a vida nele. Mas se foi assim o homem perde toda sua dignidade e se Deus é o criador do homem e de tudo mais, a idéia toda é cômica porque o que ele esteve fazendo por toda a eternidade antes de criar o homem e o universo? De acordo com o Cristianismo, Deus criou o homem apenas quatro mil e quatro anos antes de Jesus Cristo. Assim, o que ele esteve fazendo por toda a eternidade? Isso parece cômico. Não pode haver nenhuma causa, porque para ter uma causa pela qual Deus tivesse que criar a existência significa que existem poderes acima de Deus, existem causas que podem fazê-lo criar. Ou existe a possibilidade de que subitamente brotou um desejo nele. Isso também não soa bem filosoficamente, porque por toda a eternidade ele sempre foi sem desejos. E ser sem desejos é tão glorioso que é impossível conceber que de uma experiência de eterna bem-aventurança um desejo de criar o mundo brote nele. Desejo é desejo, seja para querer fazer uma casa ou tornar-se primeiro ministro ou criar o mundo. E Deus não pode ser concebido como tendo desejos. Assim a única coisa que resta é que ele é cômico, excêntrico. Então não há necessidade de causa e nenhuma necessidade de desejo - apenas um capricho. Mas, se toda essa existência vem apenas de um capricho ela perde todo sentido, todo significado. E amanhã outro capricho pode surgir nele para destruir, para dissolver todo o universo. Assim somos simplesmente bonecos nas mãos de um Deus ditatorial que tem todos os poderes, mas que não tem uma mente sã, que é caprichoso.

Para conceber isso cinco mil anos atrás, Adinatha deve ter sido um profundo meditador, contemplativo e ele deve ter chegado à conclusão que com Deus, não há sentido no mundo. Se quisermos que o mundo tenha sentido então Deus tem que ser eliminado. Ele deve ter sido um homem de tremenda coragem. As pessoas ainda estão adorando Deus nas igrejas, nas sinagogas, nos templos; mesmo assim este homem Adinatha cinco mil anos atrás chegou a uma conclusão científica precisa de que não existe nada superior ao homem e qualquer evolução que venha a acontecer será no próprio homem e em sua consciência.

Este foi o primeiro salto - Deus foi eliminado. Adinatha é o primeiro mestre do Jainísmo. O crédito não vai para Buda porque Buda vem vinte e cinco séculos depois de Adinatha. Mas outro crédito vai para Buda. Adinatha eliminou Deus, mas não conseguiu pôr a meditação em seu lugar. Pelo contrário, ele criou asceticismo, austeridades, torturando o corpo, jejuando, despindo-se, comendo apenas uma vez por dia, não bebendo à noite, comendo apenas certos alimentos. Ele chegou a uma bela conclusão filosófica, mas parece que a conclusão era somente filosófica, não era meditativa. Quando você depõe Deus você não pode ter nenhum ritual, você não pode ter adoração, você não pode ter oração, algo tem que ser substituído. Ele substituiu por austeridades, porque o homem tornou-se o centro de sua religião e o homem tem que se purificar. Pureza em seu conceito era de que o homem tinha que se separar do mundo, tinha que se separar de seu próprio corpo. Isso distorceu a coisa toda. Ele chegou a uma conclusão muito significativa, mas isso permaneceu apenas um conceito filosófico.

Você eliminou Deus, você eliminou a oração deles e agora quando ele se sentir miserável, o que ele fará? No Jainismo não há lugar para a meditação. Adinatha criou uma religião sem Deus; Buda criou uma religião meditativa. Meditação é a contribuição de Buda. A questão não é torturar o corpo; a questão é tornar-se mais silencioso, tornar-se mais relaxado, tornar-se mais pacífico. É uma jornada interior até alcançar nosso próprio centro da consciência e o centro de nossa própria consciência é o centro de todo o universo.Meu esforço é deixá-lo só com a meditação sem nenhum mediador entre você e a existência. Quando você não está em meditação você está separado da existência e este é o seu sofrimento.
 
Por religião quero dizer uma doutrina organizada, credo, ritual, sacerdócio. E pela primeira vez, quero que a religião seja absolutamente individual, pois toda a religião organizada, seja com Deus ou sem Deus, tem iludido a humanidade. E a única causa tem sido organização, porque a organização tem seus próprios meios que vão de encontro à meditação. A organização é realmente um fenômeno político, não é religioso. O homem é absolutamente livre, totalmente responsável por seu próprio crescimento.  Deixem apenas a meditação, então ela não poderá ser esquecida de maneira nenhuma. Não há nada que possa substituí-la. Não há nenhum Deus e não há nenhuma religião. Foi um insight de Buda perceber que Deus foi deposto; agora o vazio deve ser preenchido, senão o vazio irá destruir o homem. Ele colocou a meditação - algo realmente autêntico, que pode transformar todo o ser.  O problema real é o sacerdote, e Deus é uma invenção do sacerdote. Se você eliminar o sacerdote, você pode eliminar Deus, mas os padres sempre encontrarão novos rituais, eles criarão novos deuses.

Adinatha depôs Deus, mas não depôs a organização. E porque não havia nenhum Deus, a organização criou o ritual. Buda, vendo o que aconteceu ao Jainísmo, que tinha se tornado um ritualismo, abandonou Deus. Abandonou todos os rituais e simplesmente insistiu na meditação, mas ele esqueceu que os sacerdotes que criaram o ritual no Jainísmo iram fazer o mesmo com a meditação. E eles o fizeram, transformaram o próprio Buda em um Deus. Eles falam sobre meditação mas os Budistas são basicamente adoradores de Buda - Eles vão ao templo e ao invés de Krishna ou Cristo há uma estátua de Buda. Não havia nenhuma estátua de Buda por quinhentos anos depois de Buda. Nos templos budistas eles têm somente a árvore sob a qual Buda tornou-se iluminado, gravada no mármore, apenas um símbolo. Buda não estava lá, somente a árvore.

Você ficará surpreso de saber que a estátua de Buda que vemos hoje não possui nenhuma semelhança com a personalidade de Buda, se assemelha com a personalidade de Alexandre, o Grande. Alexandre, o Grande veio para a Índia trezentos anos depois de Buda. Até então não havia nenhuma estátua de Buda. Os sacerdotes estavam buscando pois não havia nenhuma fotografia, não havia nenhuma pintura, então como fazer uma estátua de Buda? E a face de Alexandre parecia realmente um super-homem, ele tinha uma bela personalidade, a face e a psicologia Grega; eles pegaram a idéia da face de Buda e o corpo de Alexandre. Assim todas as estátuas que estão sendo adoradas nos templos Budistas são estátuas de Alexandre, o Grande, elas não tem nada a ver com Buda. Mas os sacerdotes tinham que criar uma estátua - Deus não estava lá. Rituais eram difíceis. Em torno da meditação os rituais eram difíceis. Eles criaram a estátua e começaram a dizer - do mesmo jeito que todas as religiões estiveram fazendo - tenham fé em Buda, confiem em Buda, e vocês serão salvos. Ambas revoluções ficaram perdidas.

Eu gostaria que o que estou fazendo não se perca. Assim, estou tentando de todas as maneiras possíveis abandonar todas essas coisas que no passado foram barreiras para a revolução continuar e crescer. Não quero que ninguém fique entre o indivíduo e a existência. Nenhuma oração, nenhum sacerdote, você sozinho é suficiente para encarar o nascer do sol, você não precisa de alguém interpretar para você como o nascer do sol é belo.

Lao Tzu costumava passear nos montes. Um amigo lhe perguntou, Posso ir um dia com você? Eu particularmente gostaria de vir amanhã, porque tenho um hóspede que está muito interessado em você e ele será imensamente grato de ter a oportunidade de estar com você por duas horas nas montanhas. Lao Tzu disse: Não tenho objeções, apenas uma coisa simples deve ser lembrada. Não quero que coisa alguma seja dito porque tenho meus olhos, você tem seus olhos, ele tem os olhos dele, podemos ver. Não há necessidade de falar nada. Estava tão bonito ao lado do lago, o reflexo de todas as cores, os pássaros cantando e os lótus florescendo, brotando, ele não pode resistir, ele esqueceu. Ele disse, Que belo nascer do sol. Seu anfitrião ficou chocado porque ele havia quebrado a condição. Lao Tzu não disse nada, nada foi dito então. De volta em casa ele chamou seu amigo e lhe disse, "não traga mais seu hóspede. Ele é muito tagarela".

O nascer do sol estava lá, eu estava lá, ele estava lá, você estava lá - qual a necessidade de dizer algo, qualquer comentário, qualquer interpretação? E esta é a minha atitude: você está aqui, todo indivíduo está aqui, toda existência está disponível. Tudo que você precisa é apenas ficar em silêncio e escutar a existência. Não há nenhuma necessidade de qualquer religião, não há necessidade de qualquer Deus, não há necessidade de qualquer sacerdócio, não há necessidade de qualquer organização. Eu confio categoricamente no indivíduo. Ninguém até agora tinha confiado no indivíduo dessa maneira. Depois todas as coisas podem ser removidas. Agora tudo que restou para você é um estado de meditação, que simplesmente significa um estado de silêncio absoluto. A palavra meditação a faz parecer mais pesada. É melhor chamá-la apenas de um simples, inocente silêncio, e a existência abre toda sua beleza para você. E à medida que isso vai crescendo, você vai crescendo, e chega o momento quando você alcançou o pico da sua potencialidade - você pode chamar isso de estado Búdico, iluminação, bhagwatta, divindade, qualquer que seja, isso não tem nome, então qualquer nome servirá.